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Vírus eleitoral

Governadores se saem melhor do que Bolsonaro na crise do vírus, diz Datafolha

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O presidente Jair Bolsonaro deixa o ministério da Economia após reunião com ministro Paulo Guedes - Pedro Ladeira/Folhapress

Em política, perdoe-se o lugar-comum, toda crise é uma oportunidade. Não haveria de ser diferente com essa que talvez seja a maior emergência sanitária que o país enfrentou na sua história recente, a pandemia do coronavírus.

Desde que o regime de urgência instalou-se entre autoridades de saúde do país, foi possível discernir com clareza o grau de comprometimento de diversas autoridades.

O chefe de Estado tratou o tema com ligeireza. "Histeria" e "gripezinha" foram expressões usadas por Jair Bolsonaro acerca da Covid-19.

Após a irresponsável participação em atos contra outros Poderes, houve uma inflexão atabalhoada, mas ao menos o presidente começou a reconhecer a emergência.

Já o ministro Luiz Henrique Mandetta (Saúde), conduz um trabalho visto como técnico --a controversa proposta de adiar as eleições municipais foi feita após a pesquisa. E os governadores assumiram o papel de gestores de crise.

Alguns podem ter sido draconianos antes do tempo, como Ibaneis Rocha (MDB-DF), mas ninguém quis ser visto como omisso. O exemplo mais evidente está em São Paulo, onde João Doria (PSDB) tornou-se face pública da comunicação dos esforços no estado.

O resultado é aferível na pesquisa Datafolha publicada nesta segunda. Ali, Bolsonaro tem 35% de aprovação a seu trabalho na crise --ante reprovação quase idêntica, de 33%. Em comparação, governadores (cada entrevistado avaliou o de seu estado) têm 54% de menções positivas, e a pasta da Saúde, 55%.

Clivagens da eleição de 2018 ainda são visíveis, como o Nordeste liderando a rejeição ao Planalto --cujo desempenho, na região, é considerado péssimo ou ruim por 41%.

Se as presepadas do presidente são amplamente reprovadas (84% entendem que ele agiu mal ao confraternizar-se com manifestantes), nem tudo é má notícia para ele.

Ressalvando o fato de que a metodologia da atual pesquisa, realizada por telefone, a torna incomparável com os usuais levantamentos presenciais, os 35% de aprovação são compatíveis com o apoio médio que Bolsonaro vinha registrando. Indica-se assim preservação desse contingente do eleitorado.

Há pontos de dissonância, contudo. Num segmento em que o presidente sempre teve maior apoio, o daqueles mais ricos, a reprovação a sua gestão de crise é de 51%.

Novamente, o dado demanda reavaliação mais aprofundada, mas sugere que o dano à imagem presidencial evidenciado pelos panelaços em áreas que votaram em Bolsonaro parece estar se enraizando.

Na via oposta, governadores que miram o Planalto no pleito de 2022, como Doria ou Wilson Witzel (PSC-RJ), terão de encontrar um ponto de equilíbrio se não quiserem ver suas ações contra a pandemia confundidas com peças de campanha.

editoriais@grupofolha.com.br

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