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Arthur Fonseca Filho

As escolas particulares devem dar desconto na mensalidade durante o período sem aulas? NÃO

É hora de pensarmos e agirmos com objetivos comuns

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Arthur Fonseca Filho

A discussão sobre o tema das mensalidades escolares no contexto da pandemia da Covid-19 e da suspensão das aulas presenciais é difícil sobre qualquer ângulo, por uma razão de fundo: afasta famílias e escolas do verdadeiro acordo ético celebrado a partir de valores compartilhados e relações comunitárias, que são o real substrato desse contrato.

Podemos e devemos examinar os questionamentos das famílias com o máximo de compreensão, já que eles surgem em tempo de completa incerteza sobre o futuro: mais do que nunca é necessário diálogo.

Arthur Fonseca Filho  - Diretor da Abepar (Associação Brasileira de Escolas Particulares), ex-presidente do Conselho Estadual de Educação e diretor do Colégio Uirapuru, em Sorocaba (SP)
Arthur Fonseca Filho, diretor da Abepar (Associação Brasileira de Escolas Particulares) - Divulgação

O ponto de partida, por isso mesmo, não pode ser no campo jurídico, especialmente porque os órgãos de defesa do consumidor já se pronunciaram claramente pela validade do contrato em vigor e pela determinação de seu cumprimento.

Tampouco é fértil o embate no campo econômico: não se trata de vasculhar o orçamento das escolas à procura de gorduras a serem queimadas. A economia em insumos como água e energia é residual, importância facilmente suplantada pelos investimentos adicionais na área de tecnologia educacional. Os custos das escolas são fixos e contabilizados em bases anuais. Entre 70% e 80% dessas despesas referem-se aos salários e encargos sociais de professores e funcionários, que devem ser honrados. Esse é o real patrimônio escolar.

Reduções arbitrárias de mensalidades e a elevação da inadimplência colocam em risco a permanência no emprego de excelentes profissionais, formados ao longo de décadas.

Há, ainda, a quebra de uma cadeia de parceiros nas mais diversas áreas —em especial os do campo da tecnologia, que viabilizaram a rápida transição do presencial para o virtual. Essa ruptura não interessa a ninguém, tanto menos aos principais sujeitos da escola: os alunos.

Portanto, a discussão não deve se realizar nem pela via jurídica nem econômica: os vínculos mais relevantes das escolas e suas comunidades são os princípios e valores compartilhados.
Esquecer disso, neste momento, é minimizar a relação escola-aluno-família, priorizando um debate infindável de negociação, que sérios danos causaram à comunidade escolar num passado nem tão remoto.

Diante de tantas indefinições, é fundamental construir e compartilhar conhecimentos para seguir com as atividades não presenciais. E, para isso, também aqui o professor é indispensável, o coordenador pedagógico é decisivo. Dentro desse esforço coletivo, cabe à escola fornecer e organizar os recursos necessários para que os professores possam trabalhar com consistência; e que os alunos sejam bem atendidos —dentro dos colégios ou em suas casas.

Preservar a integridade das escolas, públicas e privadas, é o único caminho para oferecer à juventude um futuro promissor depois de superada a crise atual. Isso depende do professor: os professores são o coração da escola.

Isso quer dizer que as escolas não têm nada a fazer quanto às demandas dos pais? Claro que têm, e é o que estão fazendo. Se somos uma comunidade, a ação coerente é o diálogo para compreender a realidade de cada família, as suas peculiaridades: há quem esteja sendo impactado mais diretamente pela crise, e a escola vai fazer o máximo para encontrar soluções específicas para cada caso.

É hora de pensarmos e agirmos como comunidade, ou seja, com objetivos comuns, protegendo-nos mutuamente: pais, professores, gestores, escolas como instituição. Apenas assim protegeremos também o futuro de nossas crianças e adolescentes.

Arthur Fonseca Filho

Diretor da Abepar (Associação Brasileira de Escolas Particulares), ex-presidente do Conselho Estadual de Educação e diretor do Colégio Uirapuru, em Sorocaba (SP)

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