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Fome de dólar

Escassez da moeda americana põe emergente em risco; é preciso apoio multilateral

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Em montagem, George Washington aparece de máscara na cédula de US$ 1 - Dado Ruvic/Reuteres

Como quase sempre ocorre durante crises econômicas globais, são especialmente os países não desenvolvidos os mais sujeitos a riscos.

Embora a pandemia da Covid-19 faça menos distinção entre ricos e pobres, e ao menos até agora submeta todos a duras provas, vai ficando evidente que os emergentes, sobretudo os que se incluem no grupo de mais baixa renda, terão maior dificuldade em mitigar os impactos do novo coronavírus.

Além da falta de estrutura doméstica, a dificuldade de acesso a crédito é uma deficiência grave para o enfrentamento da calamidade.

Países que não conseguem financiamento em larga escala na moeda local precisam buscar recursos no exterior. Mas a escassez de dólares se agudiza justamente nesses momentos de necessidade, quando as cotações da moeda americana se elevam abruptamente.

É o que se observa agora. Além da perda de valor das moedas nacionais, desde o início da crise a fuga de capitais dos países pobres e remediados já chega a US$ 100 bilhões, segundo o Fundo Monetário Internacional. O montante corresponde a cerca do triplo do registrado em 2008, outro momento de desembarque de investidores.

A dominância do dólar como meio de pagamento no comércio internacional e nos mercados financeiros praticamente obriga todos a buscarem financiamento na divisa dos Estados Unidos.

Desde a derrocada internacional de 12 anos atrás, a dívida em dólares de países emergentes e suas empresas disparou, passando da casa dos US$ 3 trilhões. O resultado é um descasamento que pode se tornar impagável.

A queda dos preços das matérias-primas constitui outro fator agravante, pois reduz as receitas em moeda forte e aumenta o risco de déficits nas transações de bens e serviços com o restante do mundo.

A corrida pelo dólar é desafio para todos. Já se aventaram alternativas de financiamento de cunho multilateral, notadamente por meio do FMI, mas nunca foi possível superar o domínio absoluto da divisa norte-americana.

Enquanto uma solução definitiva não se mostra clara, cabe tratar da emergência do combate ao coronavírus. Instituições como o Fundo e o Banco Mundial propuseram suspender a amortização da dívida externa de 76 países muito pobres, com alívio potencial de até US$ 130 bilhões neste ano.

O G20 também indica que apoiará um esforço coordenado nessa direção, com diferimento ou mesmo perdão de dívidas bilaterais. A tarefa de coordenação é complexa, mas tudo sugere que algo avançará.

Da mesma forma que todos os governos estão se endividando para proteger seus cidadãos da recessão econômica, é papel dos organismos e grupos multilaterais evitar a insolvência dos emergentes.

editoriais@grupofolha.com.br

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