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O papel de Guedes

Presidente acerta ao reafirmar pauta econômica, mas ministro deve ação na crise

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O presidente Jair Bolsonaro e o ministro Paulo Guedes, da Economia - Ueslei Marcelino/Reuters

Em meio ao turbilhão de atos e declarações estapafúrdias das últimas semanas, o presidente Jair Bolsonaro mostrou ao menos um lampejo de sensatez ao esvaziar uma crise que se insinuava na condução da política econômica.

“O homem que decide economia no país é um só, chama-se Paulo Guedes”, disse na segunda-feira (27), tendo ao lado o ministro citado. O rapapé tinha sua razão de ser.

Na semana anterior, a ala militar do governo provocara alvoroço com o anúncio de um obscuro programa de obras cujo propósito, segundo o general Braga Netto, chefe da Casa Civil, seria fomentar a recuperação dos investimentos e da atividade produtiva depois de superado o impacto do combate à disseminação do novo coronavírus.

Tudo estava errado na divulgação da empreitada, obviamente avalizada por Bolsonaro. O plano exibido não passava de meia dúzia de slides vagos e jargões tecnocráticos. Além disso, embora seja necessário planejar o cenário pós-pandemia, há medidas mais urgentes a tomar para amparar cidadãos, empresas, estados e municípios.

Dada a tradição estatista e gastadora das Forças Armadas, surgiram temores justificados de que se buscava uma brecha permanente nas normas de contenção da despesa pública, ora correta e temporariamente relaxadas para o enfrentamento da calamidade.

Intenções do gênero foram negadas por Braga Netto, mas a ausência de nomes da equipe de Guedes na entrevista acirrou as incertezas. O presidente, afinal, já havia demitido o titular da Saúde e logo faria o mesmo com o da Justiça.

Uma vez prestigiado, o ministro da Economia tratou de reafirmar sua agenda de reformas liberais e ajuste das finanças públicas. No que diz respeito ao longo prazo, ele está correto: o Estado brasileiro sairá ainda mais deficitário e endividado desta crise, o que torna ilusório a esta altura imaginar programas grandiosos de obras.

Entretanto sua pasta deixa a desejar, sim, na liderança das políticas imediatas para a mitigação dos efeitos da recessão que se inicia sobre o emprego e a renda das famílias. Esse vazio logo se viu ocupado pelo Congresso Nacional e, em parte, pelo Banco Central —além, claro, de atrair os militares.

editoriais@grupofolha.com.br

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