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Alfredo Cotait Neto

Mais restrições às empresas e aos cidadãos

Autoridades têm a obrigação de esclarecer medidas e dialogar com a sociedade

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A Prefeitura de São Paulo desistiu de impor barreiras nas principais vias da cidade para desestimular a circulação de veículos, mas estabeleceu, a partir desta segunda-feira (11), um rodízio ampliado, impossibilitando a circulação de 50% da frota de veículos até o fim do mês de maio.

A medida exclui carros de profissionais de serviços essenciais, mas, mesmo assim, promete causar grande confusão e aglomeração de pessoas no transporte coletivo, sem falar nas estações de metrô e trem e terminais de ônibus.

Alfredo Cotait Neto - Presidente das Associações Comerciais do Estado de São Paulo (Facesp) e da Associação Comercial de São Paulo
O empresário Alfredo Cotait Neto, presidente das Associações Comerciais do Estado de São Paulo (Facesp) e da Associação Comercial de São Paulo - Divulgação

Embora não tenha explicado o “porquê” dessas medidas, parece claro que deseja forçar o aumento do isolamento em razão do crescimento do número de óbitos na capital e da incapacidade do sistema de saúde de atender a todas as vítimas da Covid-19.

Considero que as autoridades, para tomarem medidas intervencionistas como essas, têm a obrigação de esclarecer à população a razão de tais restrições, que certamente aumentarão as dificuldades, e também devem procurar dialogar, para que possam atingir os objetivos visados, com o menor custo possível para a sociedade.

Além disso, precisam mostrar o que estão fazendo para evitar a propagação do vírus, de um lado, e a ampliação do sistema da saúde, de outro. A única notícia que se tem da atuação recente da prefeitura é a declaração do prefeito Bruno Covas (PSDB) de que a municipalidade está pronta para atender àqueles que morrerem em consequência da pandemia —o que parece não ser a principal preocupação da população, que quer saber, isso sim, o que se está fazendo para reduzir o número de mortes.

Segundo os dados que vêm sendo divulgados sobre a ação do vírus na capital, o aumento de óbitos das últimas semanas tem ocorrido especialmente na periferia, em decorrência das dificuldades de se manter o isolamento e, sobretudo, das precárias condições de saneamento, que impedem a população de seguir as normas de higiene para evitar o contágio.

Essa situação já era previsível e há tempos alertamos para a necessidade de especial atenção e atuação do poder público nas regiões mais carentes.

Agora, nos sentimos na obrigação de alertar mais uma vez sobre os grandes riscos decorrentes da prorrogação das restrições, tendo em vista as dificuldades enfrentadas por empresas e cidadãos após um mês de isolamento.

E alertar também que, quanto mais longo for o período de restrições, maiores serão os custos econômicos e sociais em termos de fechamento de empresas e perda de renda, inclusive de profissionais liberais e dos informais, além dos efeitos negativos sobre a saúde física e mental da população.

Não se pode ignorar, também, os aspectos sociais do confinamento e seu impacto nas comunidades mais carentes, nas quais (é preciso reafirmar) são precárias as condições habitacionais, de saneamento e financeiras; e onde, no geral, o isolamento é ainda mais difícil, com a higienização dificultada pela falta de água e a sobrevivência afetada pela ausência de renda.

Nessas regiões é indispensável a presença do Estado e dos municípios, muito mais do que a preocupação com o isolamento em áreas mais favorecidas.

Entendo que cabe à administração municipal mostrar o que foi feito desde o início do ano nessas regiões para minimizar as dificuldades, o que está fazendo agora e o que pretende fazer para evitar que os moradores da periferia continuem a ser as grandes vítimas da pandemia.

Aumentar o isolamento das demais regiões não parece que irá contribuir para resolver esse problema. Restringir a circulação de veículos também não se afigura como necessário nem eficiente para essa finalidade.

É preciso maior transparência e diálogo para que as imposições do setor público, cerceando a liberdade dos cidadãos, possam ser discutidas com a sociedade, e não apenas impostas. Perguntas como não apenas o “quando”, mas também o “como” iremos superar essa pandemia, precisam ser respondidas. Até quando é possível aguentar o isolamento? Como conseguiremos a “imunidade” com o isolamento?

Não se pode simplesmente aceitar que o poder público vá tomando suas decisões, sem qualquer discussão, mesmo sob a alegação de que está se baseando na ciência, quando se sabe que a precariedade das informações impede que se possa ter conclusões e decisões definitivas. Também não se pode cair na armadilha do falso dilema entre saúde e economia, pois correremos o risco de acabar não salvando nem uma nem outra.

Como sempre, procuramos colaborar com as autoridades, mas somos cobrados pelos empresários, que estão com seu presente comprometido e sem perspectivas para o futuro. Precisamos de um quadro realista, em vez de somente dados e informações negativas, e de ameaças de novas medidas restritivas, que acabam precipitando reações defensivas para preservar as empresas, agravando o já dramático quadro de desemprego.

Precisamos, sobretudo, de um horizonte e da certeza de que os sacrifícios impostos à população, e as medidas tomadas pelas autoridades, podem garantir para breve a abertura da economia com a segurança da saúde.

Alfredo Cotait Neto

Presidente da Confederação das Associações Comerciais e Empresariais do Brasil (CACB), da Federação das Associações Comerciais do Estado de São Paulo (Facesp) e da Associação Comercial de São Paulo (ACSP)

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