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O caso da Suécia

Defender estratégia do país escandinavo no Brasil desconsidera quadro diverso

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Suecos respeitando distância mínima em escada rolante de Estocolmo - Henrik Montgomery/TT News Agency via Reuters

No debate sobre a estratégias contra a pandemia de coronavírus, o exemplo sueco tem sido esgrimido como argumento de diversos pontos de vista, do técnico ao ético e do epidemiológico ao ideológico. Até o presidente Jair Bolsonaro agarrou-se a ele.

No mais das vezes, reduz-se a situação no país escandinavo a uma caricatura. Bolsonaro quis destacá-lo como paradigma da inutilidade do isolamento social, numa comparação destrambelhada entre Argentina, que critica, Brasil, que sabota, e Suécia, que admira.

O presidente, mais uma vez, deu prova de despreparo. Na conta por milhão de habitantes que sugeriu, os vizinhos se saem melhor (178 casos/milhão) que os brasileiros (1.140), e os suecos ficam em último lugar (2.937), até o fim de semana.

Tais cifras indicam que os suecos erram ao não adotar medidas draconianas como as de outras nações europeias? É cedo para dizer. A depender da duração da pandemia e do tempo para aprovar-se uma vacina eficiente, aceitar mortalidade mais elevada de partida pode ou não se revelar uma política adequada ­—é uma aposta.

Aposta fundada em lógica e princípios, a bem dizer, não em crenças irracionais como a viabilidade de uma retomada geral de atividades ou os efeitos da cloroquina.

Equivoca-se quem propagandeia que não houve política de distanciamento social na Suécia: museus, estádios, universidades e colégios fecharam, proibiram-se visitas a casas de repouso e reuniões de mais de 50 pessoas.

Sim, o comércio permaneceu aberto, mas com regras contra a aproximação entre clientes. E o país europeu tem metade dos habitantes da Grande São Paulo, baixa densidade demográfica, população de alto nível de escolaridade e sistema de saúde eficiente, que passou longe do colapso mesmo com a maior proporção de casos.

Brandir esse caso como exemplo a ser seguido no Brasil soa como chiste macabro. Aqui nem sequer há informações confiáveis sobre quantidade de infecções e óbitos por Covid-19 para nortear qualquer política de distanciamento, menos ou mais rigorosa.

Na penumbra das evidências parcas e da desrazão rampante, tateamos entre tentativas e erros. Basta ver as idas e vindas em São Paulo quanto à mobilidade dos cidadãos, que não se consegue reduzir.

Certo é que não existe política única para garantir isolamento social na medida certa. Países, regiões e cidades enfrentam momentos diferenciados na marcha da epidemia, com recursos sanitários e condições sociais díspares.

editoriais@grupofolha.com.br

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