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Obsessão por armas

De modo temerário, Bolsonaro volta a insistir em medidas para afrouxar controle

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O presidente Jair Bolsonaro, cercado de parlamentares favoráveis a maior flexibilização do controle de armas - Pedro Ladeira - 7.mai.19/Folhapress

O debate em torno da flexibilidade para a posse e o porte de armas de fogo não é estranho aos países democráticos. Os graus de controle variam a cada sociedade, atingindo nos Estados Unidos uma frouxidão que esta Folha julga deplorável, dadas as consequências nefastas para a segurança pública.

O que se observa no governo do presidente Jair Bolsonaro —e isso, diga-se, ele nunca escondeu— é justamente o ímpeto de reproduzir no Brasil, tanto quanto possível, o mau exemplo norte-americano.

Bolsonaro e seus filhos sempre demonstraram especial atração por pistolas, fuzis e outros instrumentos letais —a ponto de o mandatário ter transformado o gesto de mimetizar armas de fogo com as mãos em símbolo de campanha.

Para além da questão ideológica, a atuação do Palácio do Planalto nesse terreno tem se revelado uma perigosa e irresponsável tentativa de estimular a circulação de armas sem controle da sociedade, o que apenas facilita sua utilização por criminosos e milícias.

Embora cerceadas, em parte, pelo Congresso, a despeito da atuação parlamentar de uma bancada armamentista, as estocadas do presidente nesse terreno persistem.

Assim o demonstra a recente decisão de revogar três portarias do Exército que estabeleciam regras para rastreamento e identificação de armas de fogo, bem como a obrigatoriedade de dispositivos de segurança nesses artefatos.

A medida provocou, inclusive, reação do Ministério Público Federal, que abriu procedimento para apurar eventual invasão de competências exclusivas do Exército.

É de perguntar a quem interessa esse tipo de licenciosidade, senão àqueles que não querem prestar contas à sociedade da posse e do uso desses equipamentos.

Trata-se de uma evidente tentativa de dificultar o trabalho dos órgãos de segurança de detectar as origens de armamentos e munições —que não raro, como se sabe, vazam da legalidade para as mãos de criminosos, num país em que os índices de homicídios estão entre os mais elevados do mundo.

Bolsonaro tem dado renovadas demonstrações de seu desapreço por um ordenamento solidário e pacífico da vida social. Ao fazê-lo, com exasperante insistência e insensibilidade, mostra-se um instrumento facilitador da violência, que deveria, como presidente da República, se empenhar em controlar.

editoriais@grupofolha.com.br

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