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Pesquisar a Covid-19

São absurdos obstáculos enfrentados por equipes que estudam coronavírus no país

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Amostras para testes de coronavírus na Fiocruz - Carl de Souza/AFP

Conhecer a prevalência do novo coronavírus na população brasileira —algo impossível por meio das estatísticas oficiais, turvadas por grave subnotificação— constitui passo fundamental para o enfrentamento adequado da Covid-19.

Apenas com dados mais precisos torna-se possível realizar projeções acuradas sobre o avanço da epidemia, descobrir quais as regiões mais atingidas, planejar medidas de contenção e, em última instância, decidir quando os brasileiros poderão retomar suas atividades cotidianas com segurança.

Para suprir essa carência, teve início na semana passada imenso estudo populacional, capitaneado pela Universidade Federal de Pelotas (RS) e financiado pelo Ministério da Saúde. Dividida em três fases, a pesquisa testará 99.750 pessoas de 133 municípios de todas as regiões, para descobrir quem já teve contato com o patógeno.

Dessa forma será possível, entre outras coisas, estimar a parcela da população com anticorpos para o Sars-CoV-2, medir a velocidade de expansão do vírus em diferentes áreas do país, descobrir o percentual de infecções assintomáticas e determinar a taxa de letalidade

Nesta primeira fase do projeto, contudo, equipes em diversas cidades têm sido surpreendidas por situações entre lamentáveis e absurdas, que dificultam e até impedem a correta execução da tarefa.

Segundo relatos, pesquisadores foram detidos pela polícia para prestar esclarecimentos, proibidos de cumprir suas funções pelas prefeituras e agredidos nas ruas; testes foram apreendidos e destruídos e, em casos extremos, algumas equipes foram obrigadas a abandonar municípios.

Aparentemente, a principal razão de tais despautérios foi a deficiência de comunicação. Cabe ao Ministério da Saúde informar as cidades escolhidas para a realização dos testes, mas, em muitos casos, tudo indica que isso não ocorreu —uma falha inadmissível.

Os atos de violência, incluindo detenções e destruição de testes, contudo, extrapolam possíveis mal-entendidos. Suas causas devem ser apuradas, e os culpados, punidos.

A pesquisa já foi realizada, de forma piloto, no Rio Grande do Sul. Por ela, soube-se, por exemplo, que a taxa de infectados entre os gaúchos é de 9 a 12 vezes o número oficial. Para que seja possível descortinar o quadro nacional, cumpre que sejam dadas aos pesquisadores, ao menos, condições para prosseguir seu trabalho.

editoriais@grupofolha.com.br

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