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Ester Sabino

Qual é o próximo passo no combate à pandemia?

Teste precisa detectar quem ainda não adoeceu

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Desde o começo da pandemia ouvimos que é preciso testar muitas pessoas para controlar o espalhamento do vírus. Na medida que a produção dos testes aumenta em todo o mundo, inclusive no Brasil, a testagem em alta escala pode ser possível. Como seria?

Para ser efetiva, a testagem precisa detectar quem está transmitindo o vírus e quem são as pessoas que tiveram contato com elas mas ainda não adoeceram, os chamados contactantes. Uma vez identificados, será preciso isolá-los para que outras pessoas não se contaminem.

Ester Sabino - Professora do Departamento de Moléstias Infecciosas da Faculdade de Medicina da USP, integrou a equipe de cientistas brasileiros que sequenciou o genoma do coronavírus
A professora Ester Sabino, do Departamento de Moléstias Infecciosas da Faculdade de Medicina da USP - Divulgação

Realizar campanha de testagem no Brasil sem conexão com os serviços de saúde e com um programa de isolamento dos contactantes não surtirá efeito na contenção da pandemia. O coronavírus tem um período médio de incubação de cinco dias. Cerca de 99% das pessoas expostas terão sintomas até 14 dias após a exposição. A transmissão é maior no início dos sintomas, mas também pode ocorrer dias antes do início dos mesmos ou através de pessoas assintomáticas. Ao detectar um caso positivo temos que isolar aqueles que possam vir a infectar outras pessoas. Isso precisa ser feito tão rapidamente quanto a testagem.

O Sistema Único de Saúde é um dos maiores e mais complexos do mundo. Sua base é a atenção primária, representada pelas Unidades Básicas de Saúde com sua extensa capilaridade territorial e o trabalho das equipes de saúde da família, realizando vacinação, exame pré-natal, controle de hipertensão e diabetes.

A testagem rápida precisa integrar os resultados laboratoriais e a rede primária do SUS. Os contactantes dos pacientes precisam ser cadastrados no momento da coleta da amostra dos pacientes. O resultado tem que sair de forma rápida bem como a orientação aos contactantes, e aos contactantes dos contactantes!

Desde março participo de uma iniciativa inovadora da Prefeitura de São Caetano do Sul (SP), da Universidade de São Paulo e da Universidade Municipal de São Caetano na montagem de um sistema de atenção básica integrada, que liga a atenção primária à telemedicina e ao laboratório de testagem.

Quem é da cidade acessa o site http://coronasaocaetano.org ou liga 0800 774 4002, cadastra-se e informa seus sintomas. Baseado nas respostas, um médico liga ao paciente e define se deve ficar em casa e aguardar a coleta da amostra ou se deve ir ao hospital. A atenção primária é informada sobre os pacientes que ficaram em casa para organizar a coleta de amostras.

No momento da coleta, o paciente informa os dados dos seus possíveis contactantes. O teste genético para detectar o vírus é feito no mesmo dia e o resultado liberado no sistema. Os agentes de saúde recebem a lista diária para acompanhar os pacientes por telefone e evitar que pessoas que estejam evoluindo de forma mais grave saiam de casa.

O sistema foi implementado em 6 de abril e já foram atendidas 4.671 pessoas e 659 casos positivos foram ou estão em seguimento. O sistema vem sendo aprimorado para integrar o monitoramento a distância por oxímetro (que mede a taxa de oxigênio no sangue) e um sistema acelerado para testagem dos contactantes. O exemplo de São Caetano deveria ser replicado em todo o país.

Ester Sabino

Professora do Departamento de Moléstias Infecciosas da Faculdade de Medicina da USP e coordenadora do Centro Conjunto Brasil-Reino Unido para Descoberta, Diagnóstico, Genômica e Epidemiologia de Arbovírus; é ex-diretora do Instituto de Medicina Tropical

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