A pandemia de Covid-19, que assusta, mata e paralisa o mundo, trouxe uma grande oportunidade para o Brasil: a reconversão industrial, que nada mais é do que a adaptação das empresas para produzir equipamentos como respiradores, máscaras, aventais, luvas e outros acessórios utilizados por médicos, pessoal de enfermagem e auxiliares no combate ao novo coronavírus.
Neste 1° de Maio dramático, infelizmente não há o que comemorar, por uma série de motivos. O maior deles é a crise sanitária que suspendeu os sonhos de todos. Nenhum país do mundo estava preparado para a pandemia. Mas nós poderíamos, com certeza, ter minorado as dores e os sofrimentos dos profissionais das atividades essenciais e dos pacientes que foram atingidos pela Covid-19 se tivéssemos uma indústria ativa no setor de saúde.
Bastava termos investido na reconversão industrial (muitas empresas que poderiam ser adaptadas para isso) há alguns anos. Esse setor foi esquecido. Aliás, como toda a nossa combalida indústria nacional. Hoje, não estaríamos dependendo totalmente da China, a grande “farmácia do mundo” para a aquisição de respiradores, máscaras, luvas e aventais, uma vez que pelo menos 95% desses equipamentos são produzidos naquele país. Poderíamos produzir todos eles por aqui.
A adaptação feita agora é apenas o começo. Grandes empresas, como multinacionais, botaram a mão na massa e estão consertando respiradores (o Brasil tinha 5.000 parados por falta de manutenção). O setor têxtil está produzindo máscaras, no Nordeste, a pedido dos governadores. As universidades especializadas estão preparadas para ajudar. A Politécnica, da USP, por exemplo, construiu um respirador de baixo custo.
A criação de um polo no setor farmacêutico, com grande número de empregos, seria uma grande notícia para o nosso 1° de Maio. O movimento, como sabemos, começou em 1886, nos Estados Unidos, e pedia a redução da carga horária nas fábricas, que chegava a 17 horas por dia. Foi reprimido violentamente, e houve muitas mortes.
Infelizmente, aqui no Brasil, todos os direitos dos trabalhadores foram destruídos por “reformas” que trariam empregos, diziam. Na verdade, não só o desemprego aumentou como cresceu muito a informalidade (temos hoje mais de 40 milhões de brasileiros nesta condição).
Para completar a tragédia, o presidente Jair Bolsonaro fabricou medidas provisórias, as famosas MPs, contra os trabalhadores e a favor de empresários e do próprio governo. Uma delas, a MP 936, autorizou os contratos individuais, desrespeitando o artigo 7° da Constituição, que prevê acordos coletivos entre sindicatos e empresas. O argumento: manter os empregos. Grande balela. As demissões continuam. Vale lembrar, a medida teve o apoio do STF.
Diante dessa pandemia, o governo deveria ter papel regulador, como acontece em outros países, protegendo empregados e empregadores. Uma das grandes medidas seria incorporar a reconversão industrial, num projeto moderno para competir com a China. Ou, pelo menos, para não sermos humilhados com o monopólio dos chineses, que, com a desesperada procura por seus produtos, não tiveram dúvida. Fizeram leilão, na linha “quem dá mais“. EUA e países europeus fizeram a festa e nós não conseguimos nada —para o nosso desespero e, especialmente, dos trabalhadores das atividades essenciais e dos atingidos pela Covid-19. Bom 1° de Maio.
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