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Rosangela Lyra e Paulo Dalla Nora Macedo

Uma autópsia para a cura

Como chegamos até aqui e como sairemos desse radicalismo delirante?

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Rosangela Lyra Paulo Dalla Nora Macedo

Se você não acredita que nossas instituições estão sendo constantemente testadas nos seus limites de ruptura, por favor não leia este artigo. Da mesma forma, não o leia se você acha que não tem nenhuma responsabilidade política.

Para quem decidiu seguir adiante, a questão que trazemos é: como chegamos até aqui e como sairemos dessa paranoia do fim do mundo, do radicalismo delirante e da marcha da insensatez! Não é preciso refletir muito profundamente para concluirmos que essa conjuntura torna bastante improvável qualquer esforço do Brasil em avançar com uma agenda de país. É esse o nosso grande desafio.

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Rosangela Lyra, presidente do Política Viva - Zanone Fraissat - 1º.dez.15/Folhapress

Claro que existem diversos fatores para todo desastre, mas o que puxa a fila nasceu em meados de 2013 e demos um nome bem atual: “teoria da cloroquina”, que consiste na seguinte lógica: o maior problema do Brasil seria a corrupção. Portanto, o remédio para esse grande mal viria com o fim da política e dos políticos, restando somente os “cidadãos de bem”, seja lá o que isso quer dizer.

E qual o apelo da “teoria da cloroquina”? Vivemos em um país de estruturas imperfeitas, sejam econômicas, sejam sociais, e que muitas vezes, até involuntariamente, beneficiam uma parte da sociedade. A “limpeza” de um problema pela eliminação de uma categoria pode até ser uma solução confortável, mas é escandalosamente pueril.

O Política Viva, em algum momento de sua caminhada e com outra configuração, à época, foi convidado a abraçar a causa do combate à corrupção, que visualizava como uma forma de dar esperança a uma sociedade cansada e desiludida. Mas a pauta de extirpar a política nunca foi nossa.

Entendemos que soluções simplistas para problemas complexos estão fadadas ao fracasso.
O maior problema do Brasil não é a corrupção, e a forma de combatê-la passa ao largo da proposta dos radicais. Se olharmos países com níveis de transparência similares ao nosso, eles possuem um projeto de longo prazo que não é asfixiado pelo debate da corrupção. Por ser incompatível com a natureza humana, entende-se que não há sociedade sem vícios. A história nos ensina, com insofismável clareza, o perigo dos líderes que emergem dessa “cruzada”. O Brasil confirma a regra.

Obviamente, a política tem problemas no mundo e precisa se aproximar mais das necessidades dos cidadãos. Contudo, é importante reconhecer a sua função de mediar a sociedade e estabelecer compromissos. Sem a política, não haveria as pólis, cidades, países; seriamos terra arrasada. Ela não é somente necessária, mas fundamental.

Se você chegou até aqui, fazemos uma convocação positiva: precisamos de um maior número de pessoas trabalhando em pontes com a política, deixando de lado a teoria ilusionista da cloroquina. Não podemos confundir a legítima necessidade de fazer concessões, de negociar prioridades e cargos, com a indesejável compra de apoio absoluto. Temos que dialogar, entender motivações, agregar e, sobretudo, nos informar para muito além da superfície dos memes.

Essa é a gênesis do Política Viva, que intensificaremos com a transformação em instituto sem fins lucrativos, pela defesa da boa política e das instituições democráticas. Atuamos por meio de uma rede única no Brasil, organizada digital e presencialmente, com quase 10 mil formadores de opinião, engajados por meio dos nossos diversos canais, que funcionam como multiplicadores do debate.

É a evolução de um projeto que veio para liderar um agenda mais ampla: a maturidade política da sociedade.

Rosangela Lyra

Presidente do Política Viva

Paulo Dalla Nora Macedo

Vice-presidente do Política Viva

TENDÊNCIAS / DEBATES

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