Se você não acredita que nossas instituições estão sendo constantemente testadas nos seus limites de ruptura, por favor não leia este artigo. Da mesma forma, não o leia se você acha que não tem nenhuma responsabilidade política.
Para quem decidiu seguir adiante, a questão que trazemos é: como chegamos até aqui e como sairemos dessa paranoia do fim do mundo, do radicalismo delirante e da marcha da insensatez! Não é preciso refletir muito profundamente para concluirmos que essa conjuntura torna bastante improvável qualquer esforço do Brasil em avançar com uma agenda de país. É esse o nosso grande desafio.
Claro que existem diversos fatores para todo desastre, mas o que puxa a fila nasceu em meados de 2013 e demos um nome bem atual: “teoria da cloroquina”, que consiste na seguinte lógica: o maior problema do Brasil seria a corrupção. Portanto, o remédio para esse grande mal viria com o fim da política e dos políticos, restando somente os “cidadãos de bem”, seja lá o que isso quer dizer.
E qual o apelo da “teoria da cloroquina”? Vivemos em um país de estruturas imperfeitas, sejam econômicas, sejam sociais, e que muitas vezes, até involuntariamente, beneficiam uma parte da sociedade. A “limpeza” de um problema pela eliminação de uma categoria pode até ser uma solução confortável, mas é escandalosamente pueril.
O Política Viva, em algum momento de sua caminhada e com outra configuração, à época, foi convidado a abraçar a causa do combate à corrupção, que visualizava como uma forma de dar esperança a uma sociedade cansada e desiludida. Mas a pauta de extirpar a política nunca foi nossa.
Entendemos que soluções simplistas para problemas complexos estão fadadas ao fracasso.
O maior problema do Brasil não é a corrupção, e a forma de combatê-la passa ao largo da proposta dos radicais. Se olharmos países com níveis de transparência similares ao nosso, eles possuem um projeto de longo prazo que não é asfixiado pelo debate da corrupção. Por ser incompatível com a natureza humana, entende-se que não há sociedade sem vícios. A história nos ensina, com insofismável clareza, o perigo dos líderes que emergem dessa “cruzada”. O Brasil confirma a regra.
Obviamente, a política tem problemas no mundo e precisa se aproximar mais das necessidades dos cidadãos. Contudo, é importante reconhecer a sua função de mediar a sociedade e estabelecer compromissos. Sem a política, não haveria as pólis, cidades, países; seriamos terra arrasada. Ela não é somente necessária, mas fundamental.
Se você chegou até aqui, fazemos uma convocação positiva: precisamos de um maior número de pessoas trabalhando em pontes com a política, deixando de lado a teoria ilusionista da cloroquina. Não podemos confundir a legítima necessidade de fazer concessões, de negociar prioridades e cargos, com a indesejável compra de apoio absoluto. Temos que dialogar, entender motivações, agregar e, sobretudo, nos informar para muito além da superfície dos memes.
Essa é a gênesis do Política Viva, que intensificaremos com a transformação em instituto sem fins lucrativos, pela defesa da boa política e das instituições democráticas. Atuamos por meio de uma rede única no Brasil, organizada digital e presencialmente, com quase 10 mil formadores de opinião, engajados por meio dos nossos diversos canais, que funcionam como multiplicadores do debate.
É a evolução de um projeto que veio para liderar um agenda mais ampla: a maturidade política da sociedade.
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