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Paulo Nassar e Hamilton dos Santos

A liberdade de imprensa fortalece os negócios

Desrespeito à verdade deslegitima presença no mercado e na sociedade

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A liberdade de imprensa é um valor fundamental para a democracia, mas além disso traz prosperidade: tornou-se crucial para o êxito nos negócios. Para uma empresa crescer, seus dirigentes precisam lidar com a realidade —e não há melhor meio de alcançar a verdade e capacitar empresários e empregados do que uma informação correta, publicada, exposta ao contraditório.

Houve tempos em que empresas lucravam com a manipulação de informações. Isso, que já era crime, se tornou exceção. Uma empresa que não respeite a verdade deslegitima a sua presença no mercado e na sociedade.

O professor da USP Paulo Nassar, presidente da Aberje (Associação Brasileira de Comunicação Empresarial) - Jardiel Carvalho - 27.nov.18/Folhapress

Imaginemos uma empresa que não calcule os custos sociais ou ambientais do que produz. Disso podem resultar mais danos do que ganhos. Ela precisa se atualizar quanto à informação científica e tecnológica, mas também quanto aos valores que a sociedade respeita. Cada vez mais, relações humanas abusivas ou o descaso com o ambiente e com a governança trazem efeitos negativos para quem não os leva em conta.

A verdade emancipa. Ela permite calcular melhor insumos e resultados, “input” e “output”. Tem valor ético e econômico.

Isso vale para as informações que a empresa recebe para planejar sua produção, mas também para o que ela comunica, ao comercializar seus produtos. A mentira tem pernas curtas. Quem compra um produto ruim não torna a adquiri-lo. Em tempos de redes sociais, o mau produto é, ele próprio, propaganda adversa.

Por isso, o recall cresceu nas últimas décadas. Quando algumas empresas começaram a anunciar seus erros —desde jornais, como esta Folha, com a seção “Erramos”, até produtores de bens e serviços— houve quem dissesse que isso seria contrapropaganda. A experiência mostrou o contrário. O consumidor valoriza quem avisa logo se seu produto ou suas operações apresentam riscos. A empresa mostra responsabilidade. Ganha em reputação. Consegue confiança.

Confiança é uma palavra tão importante no ambiente de mercado quanto na democracia. É fundamental acreditar no seu fornecedor, assim como no seu representante eleito. Relações humanas são melhores quando se confia —o que vale para tudo, dos afetos que aquecem as relações privadas até os negócios feitos a distância.

Um exemplo: entre 1986 e 1994, vários planos econômicos tentaram vencer a inflação. Em comum, tinham que seus detalhes eram sigilosos. Os “pacotes” colhiam as pessoas de surpresa —um deles, o Plano Collor, foi traumático. O plano que acabou dando certo —o Plano Real— teve um diferencial: foi anunciado, no detalhe, com meses de antecedência. Não teve pegadinhas ou surpresas. Esse fato produziu uma confiança no governo que antes não existia.

A imprensa livre e isenta gera relações construtivas. Permite uma competição honesta, num jogo “ganha-ganha” para empresas, fornecedores, consumidores, comunidades e cidadãos. Favorece a inovação e promove qualidade. Por isso, em acordo com seus princípios e valores, a Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (Aberje), integrada pelas maiores empresas que atuam no Brasil, defende a plena liberdade de imprensa, até porque o conceito de liberdade só vale, mesmo, quando incorpora o de responsabilidade.

Paulo Nassar

Diretor-presidente da Aberje (Associação Brasileira de Comunicação Empresarial) e professor titular da ECA (Escola de Comunicações e Artes) da USP

Hamilton dos Santos

Diretor-geral da Aberje, é mestre e doutorando em filosofia na USP

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