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Economia brasileira dá sinais de que pode sofrer mais que as de outros países

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Homem de máscara em fila
Fila para saque do auxílio emergencial em agência da Caixa na zona leste de São Paulo - Larissa Teixeira/Folhapress

Se os impactos econômicos e sociais da pandemia são graves em todo o mundo, no Brasil as consequências podem se revelar mais devastadoras. Com progressos insuficientes no combate ao vírus, a retomada ameaça ser ainda mais lenta do que em outros países.

As projeções mais recentes apontam para uma retração do Produto Interno Bruto de pelo menos 6,5% neste ano. Se confirmada tal hipótese, a deterioração da renda será equivalente à do período 2015-16, mas de forma mais súbita e com o país em situação mais frágil.

A taxa de desemprego, que já estava perto dos 12%, saltará mais alguns pontos. O desalento que atingia 25 milhões de pessoas tende a se tornar endêmico, com impactos sociais negativos e perdas para a produtividade da economia.

Outra limitação grave está nas contas públicas, que serão danificadas seriamente com os necessários programas emergenciais de suporte à renda e ao emprego. A dívida pública deve saltar do equivalente a 75% para 95% do PIB ou mais, um fator limitante para que o Estado possa fazer investimentos em montantes significativos.

A crise do coronavírus, na verdade, acentua o padrão de estagnação que já existia antes. A insuficiência de confiança e demanda vai se consolidando.

Evidência clara da persistente ociosidade na produção e no mercado de trabalho é a trajetória da inflação, que surpreende continuamente para menos há três anos.

Mais recentemente, a tendência baixista tem se exacerbado. Mesmo com a forte desvalorização cambial dos últimos meses (que normalmente tende a pressionar insumos importados), nos últimos dois meses houve deflação, inclusive no setor de serviços.

Desde pelo menos o século passado, o país nunca conviveu com inflação tão baixa. As projeções para o IPCA neste ano já estão em 1,5%, para uma meta do Banco Central de 4% —e caminham para perto de 3% no ano que vem, novamente abaixo da meta de 3,75%.

Neste contexto, faz bem o BC em testar os limites de baixa dos juros. Na próxima semana o Comitê de Política Monetária deve cortar novamente a taxa Selic, talvez de 3% para 2,25% ao ano. No presente contexto de demanda fraca, juros baixos e câmbio desvalorizado ajudam, mas não bastam.

As causas da paralisia são mais profundas e variadas. O Estado disfuncional, voltado para si mesmo e para sua elite burocrática, não trabalha em favor da produtividade. A estrutura de tributação e gastos penaliza a produção e concentra renda, entre outros vícios.

editoriais@grupofolha.com.br

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