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Atoleiro argentino

Após êxito inicial contra vírus, volta de restrições aprofunda caos econômico

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Protesto de pequenos empresários contra a quarentena em Buenos Aires - Alejandro Pagni/AFP

A Argentina tem tido mais sucesso que os vizinhos no enfrentamento da pandemia, com baixo número de casos de Covid-19 por habitante. Ainda assim, a aceleração recente do contágio levou o governo do país vizinho a reverter o processo de retomada das atividades econômicas iniciado há um mês.

Os novos casos cresceram 140% nos últimos 20 dias, com forte concentração (97%), na região metropolitana de Buenos Aires. O número de mortos dobrou no período. Segundo dados da universidade americana Johns Hopkins, a Argentina registrou até 26 de junho 52 mil casos e 1.167 mortes.

O risco de uma piora dramática amedronta as autoridades. A julgar pela rapidez do contágio nos países vizinhos e exemplos de aceleração abrupta em locais antes pouco afetados, a melhor situação argentina desde o início da pandemia não assegura a vitória.

Daí o aperto da quarentena entre os dias 1º e 17 de julho. Serão permitidos a circulação e o uso de transportes coletivos apenas para trabalhadores essenciais.

Ao contrário de seu congênere brasileiro, o presidente Alberto Fernández tem sido consistente em sua defesa das restrições ao funcionamento da economia. Por enquanto, ainda colhe elevados índices de aprovação por sua conduta, mas o risco é que o prolongamento da recessão vá erodindo o apoio do eleitorado a suas políticas.

A situação do país já era dramática e sofrerá deterioração adicional. Calcula-se que o Produto Interno Bruto possa registrar retração próxima a 10% neste ano. O governo impôs controles de preços em itens essenciais e congelou tarifas públicas. Estima-se que a inflação caia de 54%, em 2019, para cerca de 40%, mas a redução será artificial.

A suspensão dos pagamentos da dívida externa de US$ 65 bilhões e as difíceis negociações com os credores ainda em andamento praticamente inviabilizam acesso a financiamento novo. Com reservas livres (descontados os aportes do FMI) de apenas US$ 10,6 bilhões em maio e dívida pública próxima a 100% do PIB, não há muitas alternativas disponíveis.

O caminho utilizado tem sido a expansão monetária para bancar despesas antipandemia e auxílios à população. Tudo sugere nova aceleração inflacionária mais adiante. O governo ainda carece de uma estratégia clara para organizar a economia. Uma nova renegociação da dívida, após três calotes desde 2002, será apenas o começo.

editoriais@grupofolha.com.br

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