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Devagar com o andor

Há risco de flexibilização da quarentena em SP realimentar avanço da epidemia

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Pacientes com Covid-19 na Unidade de Terapia Intensiva do Hospital Municipal Moyses Deutsch ( M'Boi Mirim ), em Sao Paulo - Lalo de Almeida/Folhapress

O plano de relaxamento da quarentena no estado de São Paulo não inspira confiança quanto a ser este o momento certo para afrouxar as restrições. Não faz muito o governador João Doria (PSDB) ameaçava com um trancamento (“lockdown”), e a marcha de uma epidemia não se altera tão rápido assim.

Reconheça-se que o governo paulista, até aqui, venha atribuindo a correta prioridade à saúde pública —acima de conveniências políticas e econômicas— na definição de medidas de enfrentamento dos impactos do novo coronavírus.

Também é elogiável que tenha explicitado parâmetros para classificar cada região em uma das cinco fases programadas de distanciamento social. Isso permite discutir mais objetivamente a oportunidade de flexibilizar a paralisação de diferentes setores.

Causou espécie, de pronto, a exclusão do município de São Paulo da fase de alerta máximo, que só admite serviços essenciais. Ela permanece em vigor nas outras 38 cidades da região metropolitana e na Baixada Santista, que têm fluxo diário de pessoas para a capital —o qual se intensificará com o atrativo de centros de compras e serviços abertos em tal proximidade.

Os critérios adotados são: ocupação de leitos de terapia intensiva, proporção desses leitos por 100 mil habitantes e quantidade de internações, casos e mortes. O governador apontou progressos nos três primeiros para justificar a diástole, mas especialistas ainda não se dão por convencidos.

Considere-se a queda na taxa de ocupação de leitos de UTI entre 26 de maio e 2 de junho, de 73,5% para 72,4% na média estadual; de tão pequena, mais se parece com simples flutuação. Acrescentou-se ainda 1,5 vaga por 100 mil, e as internações caíram não mais de três pontos percentuais.

São avanços, porém modestos. E soam pouco convincentes para pôr a maior parte do território paulista em situação de liberação crescente de atividades.

A taxa de isolamento medida com sinais de celular jamais ultrapassou a marca de 59% da população e, ultimamente, decaiu para menos de 50%. Relaxar a quarentena já está sendo visto como sinal de liberação completa, como se depreende do aumento no trânsito de veículos para o litoral nos finais de semana.

Enquanto isso, a epidemia de Covid-19 continua progredindo no estado. O número de casos já ultrapassou a casa dos 140 mil, e o de óbitos foi a mais de 9.000 —incrementos que o governo Doria atribui principalmente à ampliação da testagem, quando ainda são fortes os indícios de subnotificação..

Em meio a tantas incertezas, parece prematuro flexibilizar a quarentena, de resto pouco bem-sucedida em São Paulo e na maioria dos demais estados, sabotada como vem sendo pelo governo federal.

Outros países só deram tal passo quando se tornou patente a inflexão da curva de novas infecções e mortes por Covid-19, em observância ao princípio da precaução.

editoriais@grupofolha.com.br

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