Descrição de chapéu

Gradual e inseguro

SP afrouxa restrições com número elevado de mortes, filas e queda de secretário

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Fila para a reabertura Shopping Tatuapé, em São Paulo - Rubens Cavallari/Folhapress

Após mais de dois meses fechado em razão da pandemia de Covid-19, o comércio da cidade de São Paulo começou a ser reaberto nesta semana —de modo temerário.

O afrouxamento segue o plano elaborado pelo governo do estado, dividido em cinco fases programadas de distanciamento social. A capital foi classificada no segundo nível, considerado de atenção e que permite eventuais liberações.

Assim, shopping centers, imobiliárias, concessionárias de veículos, estabelecimentos de rua e escritórios passaram a funcionar em horário reduzido e com restrição de público, entre outras condições.

Faltou, no entanto, combinar devidamente com a população. Pelas cenas vistas nos primeiros dias, nem se nota que São Paulo ainda padece da grave epidemia, registrando cerca de cem mortes diárias. Longas filas se formaram em frente aos shoppings, e locais de comércio popular, como o Brás e a rua 25 de Março, ficaram cheios.

Certamente ansiosos pela volta da normalidade, muitos paulistanos parecem ter entendido o arrefecimento mínimo das restrições como relaxamento total —algo previsível, diga-se de passagem.

Reconheça-se o esforço tanto do governo do estado como da prefeitura paulistana em conduzir uma política coerente de combate ao coronavírus, sob sabotagem constante do presidente Jair Bolsonaro —que, em sua atrocidade mais recente, incitou seguidores a nada menos que invadir hospitais para filmar eventuais leitos vazios.

Isso posto, deve-se reconhecer que as medidas tentadas não raro afiguram-se precipitadas ou mal planejadas. Parece ser o caso, em particular, da diástole paulistana.

Com a reabertura do comércio, o transporte público tende a receber um novo afluxo de usuários. No início da semana, quando apenas parte dos estabelecimentos estava aberta, São Paulo já registrava um incremento de 200 mil passageiros de ônibus por dia.

A prefeitura, contudo, tem sido incapaz de garantir condições sanitárias mínimas, como a circulação de veículos só com pessoas sentadas. Tal dificuldade levou o alcaide Bruno Covas (PSDB) a ameaçar publicamente seu secretário de Transportes, que pediu demissão.

Fato é que, por mais que tenha se enquadrado nos critérios estaduais, a cidade mais rica do Brasil não observa ainda baixa sustentada de casos e mortes por no mínimo duas semanas, parâmetro utilizado pela Organização Mundial da Saúde para recomendar o início do abrandamento da quarentena.

Embora afirme que uma piora dos indicadores levará a retrocesso nas medidas, Covas decerto sabe que um vaivém assim apenas iria provocar irritação e tumulto entre consumidores e empresários.

Parece adequado aguardar que o quadro se assente para que os novos passos rumo à normalidade sejam dados com mais segurança.

editoriais@grupofolha.com.br

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.