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Paus e pedras

Embate sem armas de fogo entre Índia e China é ponta de iceberg de disputas

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Tropas indianas se movimentam perto da fronteira com a China - Danish Ismail/Reuters

O recente embate ocorrido entre Índia e China numa área fronteiriça em disputa, fruto do acirramento militar entre as duas potências nucleares, constitui novo foco de temor num mundo que ainda se esforça para controlar a pandemia de Covid-19 e teme a recessão econômica dela decorrente.

Em 15 de junho, nas alturas do Himalaia, ao menos 20 soldados indianos, bem como um número não especificado de chineses, morreram após centenas de militares de ambos os lados se digladiarem com paus e pedras —na área conflagrada, as tropas são orientadas a evitar ao máximo armas de fogo.

Trata-se do mais grave conflito em cinco décadas entre os dois países na região, alvo de uma guerra de grandes proporções vencida pela China em 1962. As versões para a escaramuça atual, como não poderia deixar de ser, são duas.

A Índia afirma que se defendeu após tropas chinesas não respeitarem a linha divisória no vale de Galwan. Já o governo chinês diz que seus soldados foram provocados e atacados por forças indianas que invadiram seu território.

Seja qual for a explicação mais fidedigna, o fato é que o conflito constitui o ápice de meses de tensão crescente e anos de disputa.

Embora as últimas mortes na área tenham ocorrido em 1975, embates menores se tornaram mais frequentes nos últimos anos. Nas semanas pregressas, os dois países transferiram tropas e armamentos adicionais para um ponto estratégico na fronteira comum, que soma cerca de 3.500 km.

Tal disputa, no entanto, é apenas a ponta do iceberg de um cenário de competição entre China e Índia em diversas frentes no sul asiático.

Países como Nepal e Sri Lanka, antes aliados indianos, recentemente se inclinaram para a China, atraídos por seus investimentos. Além disso, o Paquistão, arqui-inimigo de Nova Déli, se mostra agora totalmente alinhado com Pequim, inclusive militarmente.

A Índia, por sua vez, tem-se aproximado cada vez mais dos EUA, que trava uma guerra comercial com Pequim, e sinaliza uma aliança com Japão e Austrália, com o objetivo de conter a expansão chinesa no Mar do Sul da China.

A reação das duas nações ao episódio mostra que nenhuma delas deseja uma nova escalada. Tal risco, porém, não deve ser descartado. Afinal, pode ser difícil para ambas —tendo à frente líderes nacionalistas, que buscam projetar uma imagem interna de força e com posturas geopolíticas cada vez mais assertivas— encontrar uma saída para o conflito que não gere a impressão de recuo.

editoriais@grupofolha.com.br

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