Tal como se observa no resto do mundo, é possível que o pior momento para a economia do Brasil tenha ficado para trás.
O tombo da atividade em abril, auge das restrições e quarentenas contra o coronavírus, chegou a abissais 9,7% ante o mês anterior, segundo o cálculo do Banco Central. Na comparação com o mês correspondente do ano passado, a retração ficou em 15,1%.
O caminho da volta será longo e acidentado. Mesmo com uma melhora inicial consistente, como dados preliminares de maio e junho indicam, o Produto Interno Bruto terminará o ano em queda de 6,5%, segundo o ponto médio das projeções coletadas pelo BC.
Certamente há um efeito de descompressão de curto prazo, até pela preservação de renda que mal ou bem foi conseguida com o auxilio emergencial de R$ 600 mensais e outros mecanismos de apoio. Algum aumento de consumo parece provável, mesmo com maior precariedade do emprego.
Entretanto a recuperação do terreno perdido é incerta. O cenário mais otimista parte do pressuposto de que não houve perda de capacidade produtiva e nada mais impedirá a volta ao normal. Nesse caso, até o final de 2021 ou um pouco além, a economia retomaria a dinâmica anterior.
A hipótese mais sombria contempla efeitos mais persistentes da crise, no setor privado e nas contas do governo. De fato, será necessário lidar com um endividamento público mais alto e com os desdobramentos da recessão.
É plausível que haja maior propensão das famílias à poupança, em razão do desemprego, e menor disposição das empresas para investir num quadro de ampla ociosidade, além da falta de recursos para obras governamentais. Tudo isso impediria uma aceleração e alongaria o prazo para o retorno ao nível de atividade pré-crise.
Nem mesmo esse retorno seria satisfatório, cabe dizer. Afinal, mesmo antes da pandemia, o PIB medido no ano passado permanecia 3% abaixo do observado antes das retrações de 2015 e 2016. A estagnação vem de antes e agora ameaça se tornar ainda mais dramática.
Às incertezas econômicas soma-se a turbulência política sempre estimulada pelo presidente Jair Bolsonaro —impedindo que se vislumbre uma agenda clara de reconstrução e minando a confiança de empresários e consumidores.
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