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Patrícia Zaidan

As mulheres vão derrubar Bolsonaro

Manifesto une milhares com a crença de que a condução do país é machista

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Patrícia Zaidan

Jornalista, psicóloga e membro da coordenação do Levante das Mulheres

Foi fácil juntar as primeiras 90 brasileiras em torno da hashtag #MulheresDerrubamBolsonaro —e elas se multiplicaram. Temos um grito parado na garganta e uma dor provocada pela vida desigual que nos impõem. Desde as eleições de 2018, respondemos pelo maior índice de repulsa a Jair Messias, sentimento que cresce diante dos 60 mil mortos pela Covid-19, realidade produzida por falta de política de saúde, empatia e respeito humano.

Em poucos dias estava pronto o Manifesto das Mulheres Brasileiras, construção coletiva que atraiu 42 mil apoiadoras, entre elas a ex-presidenta Dilma Rousseff (PT), as filósofas Djamila Ribeiro, colunista da Folha, e Marcia Tiburi, as deputadas Luiza Erundina (PSOL-SP), Jandira Feghali (PC do B-RJ) e Benedita da Silva (PT-RJ), a líder indígena Sonia Guajajara, ex-ministras, artistas e juízas.

Mulheres protestam contra Bolsonaro na avenida Paulista, no dia internacional da mulher
Mulheres protestam contra Bolsonaro na avenida Paulista, no dia internacional da mulher - Eduardo Knapp - 8.mar.20/Folhapress

O núcleo duro, porém, é feito de mulheres nem sempre conhecidas, mas imprescindíveis nas suas comunidades. Na organização desse levante, é forte a presença das mulheres negras, antirracistas, que hoje pautam o feminismo brasileiro. Há lideranças ribeirinhas, mães antiproibicionistas que exigem o acesso a remédios à base de Cannabis sativa, defensoras do direito à terra, moradia, saúde e educação, trabalhadoras do sexo, domésticas, religiosas progressistas, LGBTQI+ e as que querem as mulheres na política.

O que nos une: a crença de que a condução do país é machista —a política se dá sob a ótica dos homens brancos que se oferecem ao lobby neoliberal. Não estamos nos lugares onde são tomadas as decisões, embora sejamos 52% dos eleitores. Seguimos apartadas deste governo que entregou o Palácio do Planalto aos generais, que atua por meio de notícias falsas, ódio, apologia do racismo e do fascismo, que é próximo da milícia, que empobrece o povo e que tem raiva das mulheres.

Somos contra a estratégia de armar a população. A licença para matar aumenta a violência no país, já banhado em sangue negro e pobre, resultado de uma política que transforma PMs em assassinos. Mais armas embalarão o feminicídio. De março a abril, o abate de mulheres cresceu 22%. Em São Paulo, chegou a 44%; no Acre, a 300%, se comparado ao mesmo período de 2019, segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

O manifesto é pelas mães que choram seus meninos desaparecidos nos “campos de desova”, no Rio de Janeiro, em Fortaleza e em Manaus, e pelas que imploram, em Boa Vista, pelos corpos de seus bebês ianomâmi vítimas da Covid-19. E por aquelas que enfrentarão a herança maldita do ex-ministro da Educação que fugiu deixando sem alternativas as crianças isoladas da escola e da creche, o Enem fora do calendário, o Fundo de Financiamento de Educação Básica sem definição.

Denunciamos o enfraquecimento da assistência social e do SUS, a dificuldade no acesso a contraceptivos (incluindo o de emergência) e ao pré-natal, e a subnotificação da morte materna por Covid-19. Sinalizamos que direitos sexuais e reprodutivos correm risco com a nomeação para a Secretaria de Atenção Primária à Saúde de um opositor do aborto legal, homem que nega a existência da violência obstétrica no país.

Porque não estamos no poder, o Brasil é o quarto país em números de casamento infantil. E, se nada for feito, o marco legal do saneamento básico aprovado pelo Senado levará à privatização da água, tirando a esperança dos 34 milhões que se abastecem carregando uma lata na cabeça.

É preciso deter este (des)governo. Não é cabível aceitar um presidente que permite a devastação da Amazônia e o uso de agrotóxicos proibidos, que acobertou o esconderijo do operador das “rachadinhas” e que cava, a cada dia, a ingovernabilidade.

O manifesto chama as instituições para providências. Será entregue a partir desta quinta-feira (2) à Câmara dos Deputados, onde pedidos de impeachment se empilham; ao TSE, que analisa a cassação da chapa Bolsonaro/Mourão por fraude; à Procuradoria-Geral da República, para que provoque o STF na responsabilização de Bolsonaro por descumprir a Constituição, atentar contra a democracia e favorecer a morte de brasileiros.

Fomos às ruas para dizer “quem ama não mata”, “Diretas Já”, “fora Cunha”, “não ao golpe”, “fora Temer” e “ele não”. E voltamos para avisar que as mulheres derrubarão Bolsonaro. Ele cairá!

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