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Educação à deriva

Tumulto no MEC prova amadorismo de Bolsonaro e testa sua nova conduta

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Guardas vigiam o prédio do ministério da Educação durante protesto de estudantes contra os cortes no orçamento da pasta
Guardas vigiam o prédio do ministério da Educação durante protesto de estudantes contra os cortes no orçamento da pasta - Pedro Ladeira - 30.mai.19/Folhapress

A passagem fugaz de Carlos Decotelli pelo Ministério da Educação revela mais que o tropeço indesculpável, para um intelectual, de fabricar títulos e realizações. Episódio tão canhestro ilustra, sobretudo, a disfuncionalidade do governo que o pôs em marcha.

Na Presidência de Jair Bolsonaro, ministros são nomeados e varridos sem cuidado nem método. Mesmo no caso em tela, quando se notou a preocupação em buscar um nome que indicasse comedimento, o amadorismo predominou.

Falhou miseravelmente o setor de inteligência do governo, que pelo visto não se deu ao trabalho de verificar as credenciais arroladas por Decotelli. Desta vez, ao menos, o Palácio do Planalto agiu rápido e nem mesmo deu posse ao novo e problemático ministro.

Não se trata de súbita valorização de atributos acadêmicos incontestes. Neste recente período de comedimento presidencial, interessa ao Planalto a repercussão do caso.

Se valores como honestidade contassem, não permaneceriam ministros outros falsificadores de currículo, como Ricardo Salles e Damares Alves. Valessem algo a impessoalidade e a eficiência, figuras da extração de Abraham Weintraub e Ernesto Araújo jamais chegariam ao primeiro escalão.

Pouco importa, no tumulto, a relevância relativa da pasta cobiçada. Há largo consenso sobre o papel decisivo da educação para o desenvolvimento do país, mas o MEC se encaminha para o quarto ministro em 18 meses de governo; tamanho descaso rebaixou expectativas ao nadir —será um alívio se não vier outro desequilibrado.

Isso tudo, destaque-se, em meio à pandemia que matou mais de 60 mil brasileiros e fechou escolas por meses a fio, com prejuízo dificilmente recuperável para a formação de dezenas de milhões de crianças e jovens. O que teve, tem ou terá o desgovernado MEC a dizer, nestes meses de paralisia e abandono de estudantes? Nada.

Nem para a Covid-19 Bolsonaro tem algo a propor, a não ser indisciplina sanitária, panaceias duvidosas e prestidigitação de dados. O próprio Ministério da Saúde, que deveria coordenar governadores e prefeitos, foi depreciado e entregue a um interino militar.

A maioria dos nomes em cogitação, a julgar pelo noticiário, dispõe de experiência acadêmica e administrativa no setor educacional. A escolha do presidente será um bom teste de veracidade para seu alistamento nas fileiras da razão.

editoriais@grupofolha.com.br

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