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Mais fogo

Queimadas têm alta na Amazônia após mancharem a imagem do país em 2019

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Queimada em área desmatada no seringal Albracia, dentro da Reserva Extrativista Chico Mendes, em Xapuri (AC), após o ministro Meio Ambiente, Ricardo Salles, suspender fiscalização da reserva. A área havia sido embargada pelo ICMBio em uma fiscalização
Queimada em área desmatada no seringal Albracia, dentro da Reserva Extrativista Chico Mendes, em Xapuri (AC), após o ministro Meio Ambiente, Ricardo Salles, suspender fiscalização da reserva. A área havia sido embargada pelo ICMBio em uma fiscalização - Lalo de Almeida - 27.nov.19/Folhapress

Com o advento da estação seca na Amazônia tem início também a temporada de incêndios na região. Em 2019, devido a sua gravidade, o problema produziu uma crise internacional e calcinou a imagem ambiental do Brasil no exterior.

Neste ano, o cenário se apresenta alarmante mais uma vez. O mês de junho registrou o maior número de queimadas no período desde 2007, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Na comparação com o ano passado, o crescimento foi de quase 20%, com os focos de calor passando de 1.880 para 2.248.

Trata-se de indício ominoso. As queimadas que assolam o bioma estão intimamente ligadas ao desmatamento, uma vez que o fogo é utilizado para limpar áreas previamente destruídas com o objetivo de convertê-las em pastagens ou outros usos —e isso só aumenta.

De agosto de 2018 a julho de 2019, o corte raso atingiu impressionantes 10 mil km² de florestas, a maior cifra registrada em uma década. Como se não bastasse, a tendência permanece de recrudescimento.

Nos últimos meses, os alertas gerados pelo sistema Deter, do Inpe, vêm mostrando altas consecutivas na comparação com os períodos correspondentes do ano anterior.

Devido à existência de mais combustível disponível, pesquisadores temem, neste ano, uma temporada de queimadas ainda mais intensa que a observada em 2019.

Considerando a vegetação derrubada do início do ano passado a abril de 2020, o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia calculou que ainda restam 4.500 km² de mata derrubada, área equivalente a três vezes a da cidade de São Paulo, a serem incinerados.

Além de contribuírem para o aquecimento global, os incêndios produzem impactos nocivos sobre a saúde das populações amazônicas. A fumaça empesteia o ar, aumentando a incidência de problemas respiratórios, como se viu no último ano nas áreas com maiores concentrações de queimadas.

Na região que abriga o menor número de leitos hospitalares do país, a combinação desse cenário com a epidemia do novo coronavírus, que ora se interioriza, pode levar a um resultado calamitoso.

Após esvaziar as agências ambientais, o governo Jair Bolsonaro transferiu a coordenação das ações de combate ao desmatamento e às queimadas ao Conselho Nacional da Amazônia, repleto de militares e presidido pelo vice-presidente Hamilton Mourão.

A mudança, contudo, não logrou até agora modificar a dinâmica de destruição do bioma amazônico.

Apenas uma ação contundente e concertada do poder público evitará o cenário desastroso observado em 2019. A julgar pela célebre declaração do ministro do setor, no entanto, a administração federal vê a emergência sanitária como oportunidade para “passar a boiada” sobre o controle ambiental.

editoriais@grupofolha.com.br

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