Descrição de chapéu

Máscaras vetadas

Na pandemia, nem paz nem amor inspiram decisões insensatas do presidente

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O presidente Jair Bolsonaro fala com apoiadores e imprensa ao sair do Palácio da Alvorada
O presidente Jair Bolsonaro fala com apoiadores e imprensa ao sair do Palácio da Alvorada - Pedro Ladeira - 14.mai.20/Folhapress

No que depender do presidente Jair Bolsonaro, máscaras para proteger a população do novo coronavírus permaneceriam dispensáveis em áreas de acesso público. Aliás, nem mesmo nas superlotadas prisões elas seriam obrigatórias.

Os estabelecimentos ficariam dispensados de fornecer a proteção facial e outros equipamentos, como álcool em gel, a empregados e frequentadores. Tampouco precisariam afixar cartazes sobre a obrigatoriedade e com instruções sobre a maneira correta de usá-la.

Tamanha temeridade sanitária, em meio à grave pandemia de Covid-19, emana dos vetos da Presidência da República ao projeto aprovado pelo Congresso e ora convertido na lei 14.019/2020.

Não seria possível acusar Bolsonaro de incoerência. Desde a eclosão do surto no Brasil, há mais de três meses, ele deu seguidas demonstrações de desprezo pela enfermidade e pelos recursos não farmacológicos para controlá-la, como o distanciamento social e a disseminação das máscaras.

Ao que parece, o presidente não toleraria ver sua assinatura numa norma federal determinando tais cuidados. Prefere dar continuidade aos maus exemplos projetando suas ideias fixas na letra da lei, mesmo que ela na prática não impeça estados e municípios de baixar ou manter medidas preventivas.

As justificativas na mensagem de veto são rasteiras. Em realidade, foram duas as comunicações ao Legislativo, pois o Palácio do Planalto deu de retificar seus próprios atos, a comprovar que os filtros da Casa Civil não funcionam —como tanta coisa neste governo.

Na sexta (3), limite do prazo constitucional de 15 dias úteis para vetos a textos aprovados pelo Congresso, Bolsonaro lançou mão de pretexto fantasioso: o texto poderia ensejar violações de domicílio.

Justificou ainda que não poderia criar obrigações para outros entes federados —como se as agruras de governadores e prefeitos lhe causassem alguma aflição.

Não contente, republicou a mensagem três dias depois para explicitar que os vetos se aplicam também à prevenção em estabelecimentos prisionais. Cumulou irresponsabilidade com crueldade, portanto, dado que as condições medievais dos cárceres brasileiros são mais que propícias para propagar o novo coronavírus.

Para o campo da saúde pública, vê-se, Bolsonaro não quer nada com paz e amor, mesmo neste interregno de trégua nos ataques às instituições. De mais responsável, o presidente volta a submeter-se a teste para a Covid-19; poucos, infelizmente, têm tal possibilidade.

editoriais@grupofolha.com.br

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