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Mourão reconhece perdas com política ambiental, mas apela para diversionismo

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O vice-presidente da República e presidente do Conselho da Amazônia, Hamilton Mourão - Pedro Ladeira - 3.fev.20/Folhapress

O vice-presidente da República, Hamilton Mourão, encarregado de pôr cobro ao desmatamento, demonstra alguma clareza sobre a incumbência titânica. Enfim alguém do governo Jair Bolsonaro parece despertar para o prejuízo à imagem e às exportações do Brasil.

Saído de reunião do Conselho Nacional da Amazônia Legal, que preside, o general afirmou que o governo será julgado pela eficácia de suas ações, e não pela nobreza das intenções. O retrospecto das ações (para não dizer da inação e da incúria) obriga a contar com o pior.

Será trabalhoso reverter a erosão de credibilidade perpetrada por manifestações de descaso e sabotagem do presidente e pela política de desmonte do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. Investidas de relações públicas não convencerão investidores, compradores e governantes estrangeiros.

Três dias depois de o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) registrar novo recorde de desmate em junho, o governo exonerou a chefe do setor de monitoramento por satélite. Impossível não lembrar os ataques presidenciais ao instituto e a suspeita de interferência para manipular dados.

Funcionários do Inpe, de resto, denunciam estrutura paralela criada pelo diretor interino, um militar, para ficar à frente no concurso de busca por novo dirigente.

De concreto, Mourão só apresentou a proibição de queimadas por 120 dias. Talvez acredite que a medida será bem recebida na Noruega, que suspendeu repasses ao bilionário Fundo Amazônia após alta de 30% na taxa de devastação em 2019 e intervenção de Salles no comitê gestor do fundo.

Proibir incêndios terá efeito quase nulo sobre as estatísticas do desmate —afinal, queima-se no período seco da Amazônia, de maio a setembro, a floresta já derrubada. Ademais, a coleta de imagens para a próxima cifra anual se encerra em duas semanas.

O próprio vice-presidente já asseverou que o combate ao flagelo amazônico deveria ter começado em dezembro. Enfileira pretextos para justificar a omissão, de restrições orçamentárias à falta de quadros no Ibama (que Salles esvazia).

Quem acompanha a situação da floresta amazônica, dentro e fora do país, sabe que o maior impedimento para uma atuação consequente está na doutrina militar de que por trás da rejeição internacional à devastação haveria interesses protecionistas para prejudicar o agronegócio nacional.

A fantasia reiterada por Bolsonaro e Mourão pressupõe que desmatar é um ato de soberania. O governo, contudo, reafirma que o Brasil não precisa derrubar uma árvore para alimentar o mundo. Cabe-lhes então pôr a segunda cláusula em prática e abolir a contradição.​

editoriais@grupofolha.com.br

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