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Pelos fundos

Com retificação de ato oficial, saída de Weintraub do país causa estranheza

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O ex-ministro da Educação, Abraham Weintraub
O ex-ministro da Educação, Abraham Weintraub - Pedro Ladeira - 18.fev.20/Folhapress

Não bastassem o fiasco da passagem de Abraham Weintraub pelo MEC e a vexatória concessão de uma sinecura no Banco Mundial ao ex-ministro, também as circunstâncias de sua saída abrupta do Brasil vão se mostrando embaraçosas para o governo Jair Bolsonaro.

Em resposta a pedidos de esclarecimento por meio da Lei de Acesso à Informação, o Itamaraty confirmou que procurou a embaixada americana solicitando visto para Weintraub, que, alvo do inquérito das fake news no Supremo Tribunal Federal, desembarcou nos EUA dois dias após o anúncio de sua saída do Ministério da Educação.

Para a pasta das Relações Exteriores, tratou-se de procedimento habitual. No entanto não parecem tão usuais as tratativas que permitiram ao ex-ministro pisar em solo americano sem qualquer embaraço, apesar das restrições adotadas pelo país devido à pandemia.

Segundo o Itamaraty, no mesmo dia em que divulgou que estava deixando a pasta da Educação, 18 de junho, Weintraub comunicou ao chanceler Ernesto Araújo que iria assumir o cargo de diretor-executivo do Banco Mundial em Washington —e, por essa razão, recorria aos “bons ofícios” do ministério para requerer o visto.

O demitido manifestou a intenção de viajar “com a brevidade possível”. Na mesma data, o Itamaraty encaminhou o pedido de visto para o seu passaporte diplomático.

A concessão de tal documento a ministros de Estado é garantida por decreto. Nesse caso, a atuação do governo suscita estranheza.

A exoneração de Weintraub só foi publicada no Diário Oficial em 20 de junho. No dia 23, entretanto, a data da medida foi alterada para 19 de junho —após o Ministério Público pedir ao Tribunal de Contas da União que apurasse a participação do Itamaraty no episódio. Dessa maneira, quem chegou aos EUA foi um ex-ministro.

Não foi a primeira vez, recorde-se, que o governo Bolsonaro promoveu uma retificação heterodoxa no Diário Oficial da União.

Na rumorosa troca do comando da Polícia Federal, em abril, a demissão de Maurício Valeixo veio inicialmente assinada pelo presidente e pelo então ministro da Justiça, Sergio Moro. Depois que Moro deixou o posto e negou ter endossado o documento, seu nome foi retirado em uma edição posterior.

Quanto a Weintraub, nem mesmo se sabe até o momento se o visto requisitado foi concedido e se o passaporte diplomático foi utilizado. A saída apressada pelos fundos precisa ser mais bem explicada.

editoriais@grupofolha.com.br

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