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Relaxamento de risco

Números da Covid-19 não inspiram confiança nas alterações do Plano São Paulo

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Moradora de prédio em Perdizes, zona oeste de São Paulo
Moradora de prédio em Perdizes, zona oeste de São Paulo - Danilo Verpa - 8.jul.20/Folhapress

O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), afrouxou de leve as regras do Plano São Paulo que definem estágios para reabrir comércio e outras atividades nas regiões do estado em meio à pandemia de Covid-19. O tucano qualificou a mudança como “calibragem técnica” para aperfeiçoar a norma.

Passar à fase verde, menos restrita, ficava antes condicionado à lotação máxima de 60% dos leitos de UTI para infectados pelo coronavírus, o que agora poderá ocorrer no limiar de 70-75%. Nenhuma região paulista chegou lá ainda.

Além dessa e de outras precondições, como a variação de casos e óbitos, passam a vigorar também limites para internações (40 por 100 mil habitantes) e mortes (5/100 mil) em intervalos de 14 dias. Introduziram-se, ademais, margens de erro nas contas.

O código de cores aplicado ao mapa estadual é de fácil compreensão, mas o mesmo não se pode dizer da multiplicação de critérios, que agora se complicam algo mais. O Bandeirantes afiança apoiar seu plano em pareceres de infectologistas e epidemiologistas, e não na pressão de prefeitos e empresários.

Importa assinalar o que parece óbvio: mesmo se escorado em saber de especialistas, o relaxamento das regras realimentará a percepção de que a epidemia está sob controle. Não é o caso, num estado em que ainda se registram 270 mortes diárias, em média.

Antes de mais nada, há que considerar a dinâmica geográfica de interiorização, reconhecida, de resto, pelo próprio governo. Enquanto recuam os óbitos na capital, no interior eles prosseguem em alta, mas nem por isso prefeitos acossados pela crise deixam de pressionar Doria para reabrir tudo.

Mesmo na capital, os dados sobre infecções pouco inspiram confiança. Na segunda fase do inquérito sorológico realizado no município, constatou-se por amostragem que 11,1% da população já teria entrado em contato com o Sars-CoV-2, o que equivaleria a 1,32 milhão de paulistanos —quando na estatística oficial são meros 182 mil.

Eis aí indício claro de que se testa pouco e mal em São Paulo, como de resto em todo o país. O poder público navega com bússola defeituosa em meio ao vendaval da saúde pública, agravado pelo vento contrário que sopra de Brasília.

Ninguém nega a devastação do emprego e da economia, porém ainda falta clareza quanto ao momento de deitar fora o lastro de prudência. Confiança prematura ou cega e erros de cálculo ancorados em ansiedade, por compreensíveis que sejam, se pagarão com muito mais mortes evitáveis.

editoriais@grupofolha.com.br

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