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Sem cura

Governo insiste na cruzada pela hidroxicloroquina, comprovadamente ineficaz

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O presidente Jair Bolsonaro
O presidente Jair Bolsonaro - Adriano Machado/Reuters

Alarga-se sem cessar o fosso entre a campanha do governo Jair Bolsonaro a favor do uso da hidroxicloroquina e os estudos que evidenciam sua ineficácia contra o novo coronavírus. Desta feita, com destacada contribuição de pesquisadores brasileiros para desautorizar o remédio dado como panaceia pelo presidente da República.

O maior trabalho sobre a droga já realizado no país, chancelado pelo prestigioso periódico New England Journal of Medicine, indicou que o medicamento, administrado sozinho ou associado com azitromicina, não promoveu melhora significativa na evolução de pacientes com sintomas leves ou moderados de Covid-19.

O estudo envolveu 667 infectados de 55 hospitais brasileiros, dos quais 504 tiveram diagnóstico para a doença confirmado. Além de a hidroxicloroquina não acarretar benefícios mensuráveis, alterações cardíacas e hepáticas foram mais frequentes em pacientes tratados com o composto controverso.

A insensata cruzada governista tem no presidente o principal garoto-propaganda da hidroxicloroquina, coadjuvado pelo Ministério da Saúde. Desviada de sua obrigação de agir com base em evidências e não nas preferências de Bolsonaro, a pasta se revela aplicada disseminadora dos supostos poderes curativos do remédio.

Na última semana, o ministério propôs aos estados que assumissem as despesas com fracionamento e reembalagem de milhões de doses de hidroxicloroquina doadas ao Brasil pelo governo americano.

Conforme reportagem do jornal O Estado de S. Paulo, o lote chegou ao país em junho em embalagens de cem comprimidos e precisaria ser dividido em caixas contendo seis cápsulas de 400 mg ou 12 de 200 mg —as doses indicadas pelo ministério para quem está em tratamento para Covid-19.

Após meses desprezando recomendações básicas como evitar aglomerações e usar máscara, Jair Bolsonaro anunciou, no dia 7, que contraíra o Sars-CoV-2 e se medicava com hidroxicloroquina. Duas semanas depois, o Planalto informou que o presidente teve resultado positivo pela terceira vez.

Com um militar interino no Ministério da Saúde desde maio, o governo federal segue inerte no combate à epidemia. Relatório do Tribunal de Contas da União (TCU) apontou que, de março a junho, a pasta gastou somente 29% da verba orçamentária emergencial que recebeu para essa finalidade.

Com mais de 85 mil mortos e 2,3 milhões de infectados, segundo a contabilidade desta sexta-feira (24), o Brasil de Bolsonaro só perde para os Estados Unidos de Trump na lúgubre matemática do coronavírus. Lá como aqui, não haverá hidroxicloroquina capaz de remediar tamanha alienação diante do sofrimento alheio.

editoriais@grupofolha.com.br

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