Com a escolha da senadora pela Califórnia Kamala Harris para compor a chapa do Partido Democrata encabeçada por Joe Biden, completam-se as peças do tabuleiro de onde sairá o nome a presidir os Estados Unidos nos próximos quatro anos. Em novembro, a dupla enfrentará os republicanos Donald Trump e Mike Pence.
Embora a definição do vice não costume ter impacto significativo nas escolhas do eleitor, a preferência por Harris constitui o resultado de um cálculo político minucioso, que considera os erros e acertos do passado recente da sigla.
A opção por uma candidatura formada pelo vice de Barack Obama ao lado de uma senadora negra e filha de imigrantes mira, ao que parece, reavivar a coalizão que deu as vitórias ao ex-presidente democrata em 2008 e 2012 —composta por negros, latinos, jovens e brancos moderados suburbanos.
Com Biden mantendo boa vantagem sobre Trump nas pesquisas nacionais, bem como a dianteira em estados-chave da disputa, sua campanha espera que, num país em que o voto não é obrigatório, a presença de Harris ajude sobretudo na mobilização rumo às urnas desse amplo arco de eleitores.
Trata-se de um aspecto crucial. No último pleito, a candidatura de Hillary Clinton não conseguiu cativar a contento negros, mulheres e jovens, e a abstenção de parcela significativa desses segmentos do eleitorado, tradicionalmente democrata, foi um dos principais fatores que a levaram à derrota.
Ademais, numa época em que ganham força movimentos como Black Lives Matter (antirracista) e MeToo (contra o assédio sexual), a nomeação da senadora se mostra sintonizada com os ventos do presente, reforçando o apelo aos mais jovens e às mulheres negras.
Sua indicação, por fim, mira o futuro: Harris, de 55 anos, é mais de duas décadas mais jovem do que Biden, que, se vier a ganhar, será o presidente mais longevo já eleito.
Mesmo aspectos seus que perturbam as alas democratas mais à esquerda, como a conduta dura como procuradora na Califórnia, soam como trunfos contra Trump, dificultando a tentativa de identificá-la como uma radical, bem como de apresentar o republicano como o candidato “da lei e da ordem”.
Tudo somado, a escolha de Harris faz sentido no propósito de potencializar a candidatura democrata —e, mantido o cenário de epidemia acelerada e recessão econômica observado nos EUA, fazer com que a vantagem nas pesquisas se materialize em vitória nas urnas.
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