Vivemos uma era de crises. A de saúde, agravada pela pandemia, desencadeou uma série de adversidades ou as tornou mais evidentes. Esta conjuntura nos coloca numa esquina civilizatória. Que mundo restará disso tudo? Ou melhor: que mundo queremos após tudo isso?
Precisamos de um novo modelo de desenvolvimento, sob risco de vivermos não só a crise sanitária, mas também a de exclusão. Segundo a ONU, 700 milhões de humanos no mundo vivem na miséria.
Diante desse cenário, defendo a formação de uma frente internacional para um desenvolvimento ecologicamente sustentável, socialmente justo e economicamente viável. E isso passa pela redução das desigualdades e pela preservação ambiental.
Uma economia verde, baseada em vetores de crescimento não poluentes e sustentáveis, já é uma pauta que avança em vários países, especialmente os europeus, que propõem o condicionamento de compromisso ambiental para acordos econômicos, como o da União Europeia com o Mercosul.
Tal conjuntura mundial explicitou o quanto a ação do governo brasileiro é deletéria. A conivência com as queimadas e os desmatamentos, o desprezo com os indígenas, a negação da ciência e a "boiada" da flexibilização de legislações ambientais passando não deixam dúvidas. E foi do setor econômico que veio a reação mais enfática, com investidores brasileiros e estrangeiros ameaçando cortarem aplicações caso a política não mude.
Considero este momento como o mais adequado para debatermos um novo conceito, o Grande Impulso para a Sustentabilidade.
Recentemente, promovi, em parceria com a Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe)/ONU, o seminário Propostas Globais para uma Recuperação Sustentável. Entre os participantes, estavam senadores brasileiros do PT, MDB, Rede e Podemos, dirigentes da Cepal, uma deputada norte-americana, o presidente da Comissão de Meio Ambiente do Parlamento Europeu e a ministra do Meio Ambiente do Chile.
Unimos pessoas de diferentes orientações ideológicas para pensarmos o desenvolvimento ambiental pós-pandemia. Nesse espírito e inspirado no que defenderam o secretário-geral da ONU, António Guterres, sobre líderes políticos se unirem em torno da solidariedade para superarmos a crise, e o físico Fritjof Capra, sobre a sabedoria e a vontade política necessárias para ouvirmos as lições que a "Mãe Terra" trouxe com a pandemia, ambos nesta Folha, propus a criação da Aliança Global por uma Vida Sustentável. Uma frente formada por pessoas e instituições conscientes de que o planeta Terra não suporta mais tantos maus-tratos e com a disposição de trabalhar de forma integrada, acima de qualquer diferença, a favor da sustentabilidade ambiental com inclusão social.
As cartas de ex-ministros da Fazenda, ex-presidentes do Banco Central do Brasil e dirigentes de bancos privados reforçam que cada vez mais agentes percebem a emergência social e ambiental que vivemos e a falta de um plano B; afinal de contas, não há outro local para habitarmos. Essa aliança que proponho é um compromisso da nossa geração com a sobrevivência do planeta.
TENDÊNCIAS / DEBATES
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