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Caso em aberto

Aclarar a relação entre Flávio Bolsonaro e Queiroz é prioridade judicial e política

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O senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) deixa o Senado após prestar depoimentos para procuradores do MPF em seu gabinete
O senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) deixa o Senado após prestar depoimento a procuradores do MPF em seu gabinete - Pedro Ladeira/Folhapress

Uma gíria acompanha as citações da família Bolsonaro a Fabrício Queiroz desde que o obscuro caso envolvendo o ex-assessor do clã eclodiu, há dois anos: rolo.

Queiroz, que por anos foi amigo e faz-tudo do ora presidente, sempre é definido como alguém que vive de rolos —ou transações heterodoxas, em bom português.

O termo foi recuperado pelo senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), mais recente membro da família a abrigar Queiroz, numa sinecura parlamentar quando era deputado estadual.

Segundo o senador disse ao jornal O Globo, é possível que Queiroz tenha pago alguma conta pessoal sua. À explicação rala ainda acrescentou, ao comentar os altos volumes em dinheiro vivo movimentados pelo ex-assessor: “Ele é um cara que tinha os rolos dele”.

A fragilidade de argumentos se repete no relato de que um policial militar havia pago um boleto seu porque estavam em um churrasco, a conta iria vencer e Flávio “não tinha aplicativo no telefone”.

É um imperativo judicial e político esclarecer as relações entre o senador, sua família e o cipoal de contatos em torno de Queiroz.

Primariamente, a suspeita recai no esquema das “rachadinhas”, segundo o qual funcionários do gabinete estadual de Flávio tinham o dinheiro apropriado para lavagem, segundo o Ministério Público.

A análise da rede que cerca Queiroz trouxe à tona intersecções entre o gabinete e o mundo das milícias do Rio, seja por transações financeiras ou pelo emprego de parentes de um dos suspeitos de envolvimento no assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL).

A entrevista também permite perceber a tática atual do clã para lograr seu objetivo estratégico, a manutenção de poder.

Nela, seguem ausentes os ataques ao Supremo e ao Congresso que marcaram os meses que antecederam a prisão de Queiroz. Flávio delineia a retórica de justificativa do novo arranjo político buscado por Jair Bolsonaro.

Ali, o procurador-geral Augusto Aras aparece como um herói legalista, a Lava Jato antes incensada é tisnada por seus membros, o chamado “gabinete do ódio” instalado no Planalto é algo legítimo, a cloroquina é apresentada como tratamento e até a “gripezinha” ganha uma explicação improvável.

Sublinhando tudo, o apoio agora republicano encontrado em setores do centrão, antes a fonte de todos os males no ideário do presidente e seus seguidores. Como uma versão Barra da Tijuca dos Bourbons, os Bolsonaros não aprenderam nada e não esqueceram nada.

editoriais@grupofolha.com.br

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