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Delação em xeque

Arquivamento de inquérito mostra fragilidade das acusações de Palocci

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O ex-ministro Antonio Palocci em depoimento ao então juiz Sergio Moro, em setembro de 2017
O ex-ministro Antonio Palocci em depoimento ao então juiz Sergio Moro, em setembro de 2017 - Reprodução

Passados mais de dois anos desde que o ex-ministro Antonio Palocci assinou acordo de colaboração premiada com a Polícia Federal, é possível constatar que o único beneficiado pelo trato foi ele próprio.

O ex-titular da Fazenda e da Casa Civil em administrações petistas saiu da cadeia, foi autorizado pela Justiça a cumprir pena em regime domiciliar e pôde conservar metade do patrimônio acumulado na política antes de sua prisão pela Operação Lava Jato, já descontada a multa que pagou.

Palocci acusou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de fazer acertos com banqueiros e empresários para financiar campanhas do partido e despesas pessoais —e se comprometeu a entregar às autoridades provas para sustentar suas afirmações.

Os depoimentos do ex-ministro fizeram barulho e deram origem a diversos inquéritos ainda em andamento, mas até agora nenhum de seus relatos foi comprovado.

Na semana passada, o delegado responsável por um dos capítulos mais rumorosos das investigações concluiu seu trabalho sem encontrar elementos que corroborassem o que Palocci disse e recomendou o arquivamento do caso.

Segundo o ex-ministro, o banqueiro André Esteves, fundador do BTG Pactual, recebeu no governo Dilma Rousseff informações privilegiadas sobre decisões do Banco Central, lucrou com apostas no mercado e montou um fundo de campanha para os petistas.

O delegado Marcelo Daher apurou o assunto durante mais de um ano. Uma análise do desempenho do fundo que teria sido beneficiado pelo esquema jogou por terra as alegações de Palocci.

Questionado novamente pelo policial, o delator reconheceu que algumas de suas —gravíssimas— acusações eram baseadas em notícias de jornais e meras suposições.

O relatório da PF ainda será avaliado pelo Ministério Público Federal, mas é improvável que isso mude alguma coisa —procuradores foram os primeiros a desconfiar das histórias de Palocci, recusando o acordo aceito depois pela PF.

Delações premiadas foram decisivas para desvendar o bilionário esquema de corrupção descoberto na Petrobras pela Lava Jato, estimulando empresários e funcionários corruptos a colaborar com a Justiça em troca de penas mais brandas para seus crimes.

Mas os êxitos alcançados também estimularam abusos, como a concessão de benefícios generosos a vários colaboradores cujas alegações se revelaram frágeis, ou mesmo infundadas.

Os advogados de Palocci dizem que ele cumpriu sua parte ao contar o que sabia e dar pistas à PF —e que ele não pode ser responsabilizado pelo insucesso das investigações. Quando tudo estiver terminado, caberá à Justiça reavaliar os benefícios concedidos ao ex-ministro e o que ele fez para merecê-los.

editoriais@grupofolha.com.br

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