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Em defesa da vida

Ato ecumênico neste domingo (9) expõe a indignação com o que está acontecendo

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No último dia 27 de julho foi publicada a “Carta ao Povo de Deus”, um impressionante documento assinado por 152 bispos brasileiros, inclusive Dom Claudio Hummes, no qual eles fazem uma firme crítica ao governo federal diante da pandemia de Covid-19. O texto aponta os descalabros produzidos pelo governo Bolsonaro, que impõe ao país milhares de mortes na pandemia, faz ataques à democracia, causa um desastre ambiental, desrespeita os negros, os povos indígenas e outras minorais, e se revela incapaz de enfrentar a estagnação econômica.

Afirma o documento que o Brasil enfrenta uma “tempestade perfeita” definida pela “combinação de uma crise de saúde sem precedentes, com um avassalador colapso da economia e com a tensão que se abate sobre os fundamentos da República, provocada em grande medida pelo presidente da República e outros setores da sociedade, resultando numa profunda crise política e de governança".

Diante da gravidade da situação, a “Carta ao Povo de Deus” afirma que nada justifica a omissão de cada um de nós, brasileiros. “É dever de quem se coloca na defesa da vida posicionar-se, claramente, em relação a esse cenário. As escolhas políticas que nos trouxeram até aqui e a narrativa que propõe a complacência frente aos desmandos do governo federal não justificam a inércia e a omissão no combate às mazelas que se abateram sobre o povo brasileiro.”

Nós vivemos um momento, diz a carta, no qual “o sistema do atual governo não coloca no centro a pessoa humana e o bem de todos, mas a defesa intransigente dos interesses de uma ‘economia que mata’ (Alegria do Evangelho, 53) centrada no mercado e no lucro a qualquer preço… No plano econômico, o ministro da Economia desdenha dos pequenos empresários, responsáveis pela maioria dos empregos no país, privilegiando apenas grandes grupos econômicos".

Ao mesmo tempo, vemos “o desprezo pela educação, cultura, saúde e diplomacia também nos estarrecer… Até a religião é utilizada para manipular sentimentos e crenças, provocar divisões, difundir o ódio, criar tensões entre igrejas e seus líderes.”

O documento assinala o compromisso de seus signatários com o “Pacto pela vida e pelo Brasil”, da CNBB e de outras entidades da sociedade civil brasileira, e termina com um apelo: “O momento é de unidade no respeito à pluralidade! Por isso, propomos um amplo diálogo nacional que envolva humanistas, os comprometidos com a democracia, movimentos sociais, homens e mulheres de boa vontade, para que seja restabelecido o respeito à Constituição Federal e ao Estado democrático de Direito".

O Projeto Brasil Nação, do qual participamos, movimento suprapartidário que reúne intelectuais, artistas e cidadãos de diferentes visões políticas, ouviu esse chamamento e apoiou imediatamente a carta dos bispos e organizou um abaixo-assinado que está neste momento disponível para ser assinado por todos os brasileiros que se sentem indignados.

Atendendo à convocação dos bispos, programamos para este domingo (9) um ato ecumênico de apoio à “Carta ao Povo de Deus”. Com ele queremos mostrar que a indignação com o que está acontecendo não é apenas dos católicos, mas de todas as religiões que defendem um mínimo de verdade e de justiça na vida pública.

O ato deste domingo será transmitido a partir das 11h pela TV dos Trabalhadores (canal 44.1, Grande São Paul), emissora ligada à CUT (Central Única dos Trabalhadores), pela rádio Brasil Atual (98,9 FM) e por redes sociais (youtube.com/redetvt e facebook.com/redetvt).

Um verdadeiro genocídio está acontecendo hoje no Brasil, quando o número de mortes pelo Covid-19 alcança 100 mil pessoas —um número que poderia ter sido muito menor se o governo houvesse seguido as recomendações da Organização Mundial da Saúde. A democracia brasileira está ameaçada.

Mas contra esse duplo mal estamos vendo uma forte reação das entidades da sociedade civil e dos Poderes da República, particularmente do Supremo Tribunal Federal. Neste momento, o chamamento ao diálogo nacional feito pelos bispos não poderia ter sido mais oportuno. A resposta positiva que ele está recebendo mostra a força da sociedade civil brasileira e sua indignação com o desgoverno a que estamos submetidos.

Celso Amorim
Ex-ministro das Relações Exteriores (2003-2010, governo Lula) e da Defesa (2011-2015, governo Dilma)

Edson França
Vice-presidente nacional da Unegro e membro da Coalizão Negra Contra o Racismo

Eleonora de Lucena
Jornalista, ex-editora-executiva da Folha (2000-2010) e criadora do serviço jornalístico TUTAMÉIA

Leda Paulani
Economista, é professora titular da USP

Luiz Carlos Bresser-Pereira
Professor emérito da Fundação Getulio Vargas, ex-ministro da Fazenda (1987, governo Sarney), da Administração e da Reforma do Estado e da Ciência e Tecnologia (1995-1998 e 1999, governo FHC)

TENDÊNCIAS / DEBATES
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