Frequentemente descrito como o último ditador da Europa, o líder da Belarus, Aleksandr Lukachenko, vive uma situação inédita nos 26 anos em que comanda, com mão de ferro, o país.
No domingo (9), o anúncio de sua sexta vitória eleitoral consecutiva —em meio a suspeitas de fraude e prisões de adversários— deflagrou imensos protestos de rua na capital, Minsk, e em dezenas de outras cidades, onde os manifestantes pediram a renúncia do autocrata.
A revolta popular vêm se juntar a uma conjuntura interna e externa desfavorável ao mandatário. A despeito do triunfo esmagador no pleito, o cenário agora formado constitui o mais sério desafio à liderança de Lukachenko desde a conquista da Presidência em 1994, na última eleição bielorrussa considerada livre e justa.
Um dos países formados após o fim da União Soviética, a Belarus nunca conseguiu deixar a órbita geopolítica e econômica russa, dependendo do vizinho em praticamente tudo, a começar pelo fornecimento de energia. Em 1999, os dois países firmaram uma união que Vladimir Putin tenta transformar numa única nação.
Apesar da aliança, ambos travam uma rivalidade há anos, fomentada pela crescente relutância russa em financiar Minsk, bem como pelos ensaios de autonomia da Belarus.
O entrevero com o Kremlin indispôs Lukachenko com a elite local, majoritariamente pró-Rússia, e gerou divisões no próprio governo.
A esse estado de coisas se soma a gestão desastrosa da pandemia. Durante meses, o autocrata negou que o vírus fosse uma ameaça séria, sugerindo que as pessoas bebessem vodca e frequentassem saunas para prevenir a infecção.
A resposta bolsonaresca à crise promoveu novas figuras da oposição, como o blogueiro Serguei Tikhanovski, preso e impedido de se candidatar. Sua esposa, Svetlana, entrou na corrida presidencial e se tornou símbolo da resistência.
Nesta terça-feira (11), ela fugiu para a vizinha Lituânia, após ter sido detida no dia anterior.
Com a repressão brutal aos protestos, Lukachenko tende a se isolar ainda mais no cenário internacional, além de estimular a insubmissão interna. O autocrata, assim, pode até conseguir estender seu governo, mas dificilmente será capaz de restaurar seu poder.
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