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Argentina obtém acordo com credores, mas situação econômica segue dramática

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O presidente da Argentina, Alberto Fernández
O presidente da Argentina, Alberto Fernández - Juan Mabromata/AFP

Após oito meses de negociações, a Argentina fechou um acordo com os maiores credores de sua dívida pública externa de US$ 65 bilhões, passo importante para retomar o acesso ao mercado internacional.

Os termos são favoráveis para a administração de Alberto Fernández. Pelo acerto, o governo pagará US$ 0,55 para cada dólar devido —acima do US$ 0,40 da proposta original e abaixo do US$ 0,60 desejado do outro lado do balcão— com alívio considerável nos prazos.

Praticamente não haverá desembolsos até 2023, o que permite lidar melhor com a crise econômica agravada pela pandemia. Embora a proposta ainda precise ser votada pelos credores até o dia 24 de agosto, os grupos já abarcados no acordo representam maioria suficiente para aprovar os novos termos.

O governo também enviou ao Congresso projeto para modificar as condições das dívidas dolarizadas negociadas no mercado local, sob a lei argentina. A próxima etapa será renegociar os US$ 44 bilhões devidos ao Fundo Monetário Internacional —que certamente exigirá do governo peronista contrapartidas de ajuste orçamentário.

A tarefa não será fácil. O pior momento da economia, tal como se observa na maior parte dos países, parece ter se dado em abril. Mesmo assim, as projeções mais recentes ainda apontam para queda do Produto Interno Bruto em torno dos 10% neste ano.

As condições financeiras se mostram dramáticas. Sem suficiente financiamento doméstico ou externo, o governo vem cobrindo o déficit nas contas públicas com emissão de moeda. Mesmo com controles de preços e recessão, a inflação permanece acima de 40% ao ano.

Não está claro se as reformas necessárias para restaurar o crescimento serão compatíveis com a base política, dependente das alas mais radicais do peronismo, alinhadas à vice Cristina Kirchner.

Inexiste um arcabouço institucional que sinalize com clareza os rumos das políticas monetária e fiscal, que ficam à mercê das emergências. Sem credibilidade, é difícil propiciar à população a expectativa de alguma normalidade.

Ao menos o governo vai construindo algum espaço de manobra. As declarações do presidente indicam foco em restaurar o acesso ao financiamento externo, controlar o déficit público e reduzir a inflação. Mas a chance de avanços dependerá de pragmatismo nas negociações com o FMI e disposição para reformas impopulares.

editoriais@grupofolha.com.br

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