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O espectro

Caso Queiroz deve ser esclarecido para definir grau de envolvimento de Bolsonaro

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O senador Flávio Bolsonaro com seu ex-assessor, Fabrício Queiroz
O senador Flávio Bolsonaro com seu ex-assessor, Fabrício Queiroz - Reprodução

Um espectro ronda o bolsonarismo. Não se trata, como suporiam seguidores do presidente, do comunismo da abertura do manifesto de Karl Marx e Friedrich Engels, mas de uma pessoa: Fabrício Queiroz.

Amigo e auxiliar de Bolsonaro desde 1984 e por último empregado no gabinete de deputado estadual de seu primogênito, o hoje senador Flávio (Republicanos-RJ), Queiroz está no centro das investigações e suposições acerca de práticas ancestrais da família.

Ele foi mandado de volta à prisão, assim como sua antes foragida mulher, Márcia. Livre, ele adulterava provas comprometedoras para a apuração, segundo despacho do Superior Tribunal de Justiça. O casal se mantém em casa graças a uma decisão do ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal.

Nos últimos dias, apurações do Ministério Público do Rio adensaram a suspeita de que Queiroz, Flávio e o presidente formavam um núcleo de atuação coeso.

A filha do ex-assessor, Nathalia, teria abastecido o esquema das “rachadinhas” na Assembleia Legislativa do Rio com 77% do que ganhou no gabinete do então deputado federal Jair Bolsonaro de janeiro de 2017 a setembro de 2018.

Antes, a personal trainer já havia fornecido 82% do que ganhara no Legislativo fluminense de 2007 a 2016 para o pai, então assessor.

A essa ligação direta com Bolsonaro se somam os pagamentos da família Queiroz ao hoje presidente.

Eles foram feitos por meio de pelo menos 27 cheques do ex-auxiliar e de sua mulher depositados em conta da atual primeira-dama do país, Michelle Bolsonaro.

Os valores são relativamente baixos, argumentam defensores do mandatário ao minimizar o escândalo e compará-lo a grandes esquemas, como o assim chamado petrolão. Isso é irrelevante, dada a dimensão da Presidência.

Cumpre acrescentar que Queiroz também pode ter servido de elo entre o gabinete de Flávio e o submundo das milícias do Rio.

No Brasil pós-redemocratização, acusações de desmandos já derrubaram presidentes em pouco tempo, caso de Fernando Collor. Outros, como Michel Temer (MDB), sobreviveram no cargo apesar da abundância de indícios a apurar.

O motivo é o sistema que orbita o Executivo, criando apetites inomináveis de partidos, a depender da conjuntura político-econômica.

Com a recuperação ora registrada pelo Datafolha no humor popular, Bolsonaro tende a contar com a boa vontade dos que detêm a faca capaz de degolar seu mandato.

Isso não pode servir de desculpa para qualquer morosidade investigativa. As sombras sobre o clã Bolsonaro demandam apuração, até para estabelecer qual o grau de responsabilidade do presidente.

editorial@grupofolha.com.br

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