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O Fed inova

Banco central americano muda política e indica juro baixo, o que ajuda o Brasil

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O presidente do Fed, Jerome Powell - Eric Baradat/AFP

Em meio à crise ocasionada pela pandemia, os bancos centrais do mundo têm sido obrigados a sair da rotina. Fora os programas de injeção de dinheiro nos mercados, ativados em dimensão inédita, a maior novidade até aqui é a decisão do americano Fed de alterar sua conduta na política monetária.

À diferença do que ocorre hoje, a instituição buscará compensar períodos de inflação abaixo da meta, de 2% ao ano, com uma tolerância para altas maiores de preços depois. O objetivo consiste em obter uma inflação média em torno da meta no longo prazo.

A mudança importa porque, até então, acreditava-se que o Fed elevaria os juros assim que a inflação voltasse a superar a meta, sem levar em conta os resultados anteriores.

Com a economia deprimida pelas consequências da Covid-19, o risco predominante hoje é o de deflação. Justamente para compensá-lo, a autoridade monetária indica que pode ser mais leniente —não muito— com os preços.

O novo regime fica reforçado por outra alteração importante, relativa ao mercado de trabalho.

Normalmente os BCs atuam com foco em controlar a inflação, o que também implica evitar excessos na utilização de recursos na economia. O principal indicador do grau de aquecimento da economia utilizado pelo Fed é a taxa de desemprego: quando ela está baixa demais, há pressão inflacionária.

Ocorre que os EUA viveram os últimos anos com o maior nível de ocupação em décadas —e sem aceleração dos preços, num fenômeno
ainda a ser mais bem explicado.

O presidente do Fed, Jerome Powell, salientou os benefícios de uma farta oferta de emprego, em particular aumentos de salários no piso da distribuição de renda e maior inclusão, palavra que utilizou repetidamente em seu discurso.

Na prática, prometeu que a instituição reagirá com vigor a taxas de desemprego altas, mas não o fará quando elas forem baixas e desacompanhadas de alta da inflação. Se tal diretriz estivesse em vigor há mais tempo, não teriam acontecido as elevações de juros entre 2016 e 2018, por exemplo.

Como coordenador do sistema financeiro global baseado no dólar, o Fed manda sinal claro de que a política monetária permanecerá expansionista por muito tempo.

As consequências previsíveis são certa tendência de desvalorização da moeda americana e maior fluxo de capitais para países emergentes, em busca de rentabilidades maiores —algo positivo para o Brasil, que ganha mais um respiro.

Aqui, a taxa Selic de 2% ao ano é a mais baixa de que se tem notícia na história documentada do país. Ao menos em tese, a nova política do Fed facilita ao BC brasileiro manter por mais tempo juros favoráveis sem provocar desequilíbrios ante as cifras internacionais.

Entretanto será um erro considerar que o novo cenário representa uma oportunidade para políticas domésticas irresponsáveis. Nas horas de crise e incerteza, afinal, o mundo procura dólares, não reais.

editoriais@grupofolha.com.br

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