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Peças que se movem

Acordo Israel-Emirados Árabes é importante, mas visa mais a guerra do que a paz

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O presidente dos EUA, Donald Trump, e o primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, durante coletiva de imprensa
O presidente dos EUA, Donald Trump, e o primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, durante coletiva de imprensa - Saul Loeb - 27.jan.20/AFP

No interminável xadrez do Oriente Médio, a região geopoliticamente mais complexa do mundo, às vezes as peças se movem.

Foi o que aconteceu, com a devida fanfarra eleitoral do patrono Donald Trump, no acordo entre Israel e os Emirados Árabes Unidos, anunciado na semana passada.

Pelo arranjo, a monarquia do golfo Pérsico deve se tornar o terceiro país árabe a estabelecer relações com o Estado judeu, depois de Egito (1979) e Jordânia (1994).

A diferença é que aquelas nações haviam combatido Israel. Agora, os Emirados na realidade querem a cooperação para eventualmente lutar ao lado de Tel Aviv. O paradoxo de uma paz para a guerra encontra sua explicação atravessando as águas do Golfo Pérsico, no Irã.

O país dos aiatolás opera há décadas uma expansão regional, por meio de grupos xiitas em lugares como o Líbano ou o Iêmen.

Do outro lado, está o centro do mundo sunita, o ramo majoritário do Islã, no Oriente Médio —a Arábia Saudita. Os potentados da península Arábica no geral se alinham ao soberano em Riad, com a notável exceção do Qatar. Há anos existem contatos discretos entre israelenses e esses sunitas.

Agora, rasga-se o véu de segredo, em nome de uma aliança que, se der certo, deverá atrair outros árabes moderados. A contenção do Irã pode ser buscada pela via econômica, mas a história não permite descartar a via do conflito armado.

Como no caso do inócuo plano de paz apresentado por Trump no começo deste ano, o sujeito oculto do processo é a questão palestina.

Aos erros de suas lideranças e à opressão israelense, ora política oficial americana, soma-se enfim o pragmatismo de um Estado árabe em relação aos palestinos.

Os Emirados tentaram disfarçar, colhendo uma promessa morna de suspensão do plano de Binyamin Netanyahu de anexar 30% das áreas da Cisjordânia com apoio dos EUA.

Da mesma forma, houve protestos entre árabes, além da previsível queixa do Irã. O mais provável, contudo, é que os palestinos sejam deixados para trás em sua causa nacional, abrindo o caminho para novos e perigosos movimentos de peças no tabuleiro.

editoriais@grupofolha.com.br

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