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Nísia Trindade Lima

Vacina para a Covid-19: acelerar em defesa da vida

Estamos otimistas com a sua potencial eficácia

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Nísia Trindade Lima

Presidente da Fiocruz e membro da Academia Brasileira de Ciências

No último dia 27 de junho, o Ministério da Saúde anunciou a participação do Brasil em importante esforço para acelerar o desenvolvimento de um produto inovador contra o vírus Sars-CoV-2: a vacina ChAdY25, desenvolvida pela Universidade de Oxford, na Inglaterra, e licenciada para produção à farmacêutica AstraZeneca.

Tal decisão baseou-se em extensa atividade de prospecção realizada pela Fiocruz/Biomanguinhos e pelo Ministério da Saúde, cujos resultados, convergentes aos apresentados pela Organização Mundial de Saúde (OMS), indicaram a vacina em pauta como das mais promissoras entre as que se encontram em estágio mais avançado de desenvolvimento. O acordo para sua produção no país, uma encomenda tecnológica, prevê a compra antecipada de 30,4 milhões de doses e a integral transferência de tecnologia para a Fiocruz/Biomanguinhos.

A presidente da Fiocruz, Nísia Trindade Lima
A presidente da Fiocruz, Nísia Trindade Lima - Bruno Poletti - 1.ago.16/Folhapress

Ao celebrar 120 anos, a Fiocruz cumpre mais uma vez sua vocação histórica de contribuir para o enfrentamento de emergências sanitárias, promover desenvolvimento científico e tecnológico e produzir soros e vacinas. Foi assim no enfrentamento da varíola, da peste bubônica e da poliomielite, entre outras doenças transmissíveis, sempre associando a produção de soros, vacinas e testes diagnósticos à atenção básica em saúde e, desde a década de 1970, à importante atuação do Programa Nacional de Imunizações. Nos anos 2000, ingressamos na moderna biotecnologia, produzindo vacinas para pneumonia, diarreia, sarampo, caxumba, rubéola e catapora, ao mesmo tempo em que demos início à produção de biofármacos.

Em construção no Rio de Janeiro, o Complexo Institucional de Biotecnologia em Saúde, maior empreendimento em biotecnologia no país, em breve irá contribuir decisivamente para a autonomia tecnológica e industrial do Brasil no campo das vacinas. Além deste, outros investimentos realizados nos últimos 20 anos tornaram viável a opção pela produção imediata da vacina para a Covid-19, inicialmente a partir de princípio farmacêutico importado e, na sequência, com a incorporação integral da tecnologia de produção.

O acordo com a farmacêutica AstraZeneca inscreve-se em um terceiro ciclo de nossa história: a primeira parceria para a inovação e o acesso a um novo produto mundial simultaneamente aos países desenvolvidos. Entraremos definitivamente na inovação e na busca de novos produtos com garantia de produção para atender à sociedade brasileira e também promover a cooperação com outros países.

Sabemos que há incerteza sobre os resultados da última fase de testes clínicos, mas estamos otimistas porque a tecnologia desenvolvida pela Universidade de Oxford ultrapassou fases importantes que demonstraram sua segurança e potencial eficácia. A marca da Fiocruz em seus 120 anos é "Fiocruz: Patrimônio da Sociedade Brasileira".

Neste momento de grande sofrimento e preocupação frente a uma pandemia que já vitimou mais de 90 mil brasileiras e brasileiros, estamos empenhados em reduzir, de modo inédito, o tempo de desenvolvimento de uma vacina. Acelerar seu processo de produção, neste caso, significa salvar vidas, com base nos conhecimentos provenientes de uma longa história de compromisso com a ciência, a produção nacional e o acesso universal através do Sistema Único de Saúde.

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