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Cálculo político

Adiamento da reabertura das escolas sugere que prioridade de Bruno Covas é evitar risco eleitoral

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O prefeito Bruno Covas cumprimenta aliados na convenção do PSDB, em que foi indicado como candidato à reeleição. - Bruno Santos/Folhapress

Ao adiar mais uma vez a retomada de aulas presenciais nas escolas de São Paulo, o prefeito Bruno Covas (PSDB) ofereceu novos motivos para os que veem com desconfiança sua hesitação diante do problema.

Nesta quinta-feira (17), o tucano anunciou que os colégios da cidade poderão reabrir no dia 7 de outubro para atividades extracurriculares, mas não definiu quando serão reiniciadas as aulas regulares, suspensas desde março por causa da pandemia do coronavírus.

Crianças e adolescentes poderão voltar às escolas para cursos de línguas, prática de esportes e outras atividades opcionais. Deverão ser respeitados limites estabelecidos pelo governo estadual, que restringem o atendimento a 35% dos alunos, entre outras cautelas.

Covas autorizou faculdades e demais instituições de ensino superior a retomar aulas presenciais em outubro, mas somente em novembro tomará uma decisão sobre o ciclo básico, que atende estudantes de até 17 anos de idade.

Ao justificar o adiamento da volta às aulas, o prefeito afirmou que o cuidado é necessário para proteger a população, evitando o risco de uma nova onda de infecções justamente quando se avolumam os sinais de desaceleração da transmissão do coronavírus na capital.

A ninguém escapa, contudo, a conveniência da decisão para as pretensões políticas de Covas, cuja candidatura à reeleição no pleito de novembro foi formalizada pelos tucanos no último fim de semana.

Ao prolongar a suspensão das aulas, Covas evita comprar briga com os sindicatos dos professores e dribla os riscos que um eventual surto de Covid-19 nas escolas criaria durante a campanha eleitoral, dando munição a seus rivais na corrida.

Com bares lotados e o comércio reaberto há meses, parece cada vez mais difícil para o prefeito justificar o fechamento das escolas, que impõe enorme prejuízo a crianças e jovens, especialmente nas famílias mais pobres, que dependem da rede pública de ensino.

A experiência internacional mostra que novos surtos de infecção associados à reabertura das escolas ocorreram em alguns lugares, nos Estados Unidos e em Israel, mas não em outros países, como a Alemanha, a França e o Uruguai.

Não há dúvida de que precauções são indispensáveis para oferecer a professores e alunos a segurança necessária para a volta às aulas, com equipamentos de proteção, regras de distanciamento e testes para identificar rapidamente e isolar novos casos de contaminação.

Cabe aos gestores públicos trabalhar para que essas condições sejam criadas com o senso de urgência que os danos causados pela pandemia aos estudantes impõem —e não submeter essa prioridade a interesses políticos individuais.

editoriais@grupofolha.com.br

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