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Campanha antivacina

Postura de Bolsonaro e falta de estratégia podem estender a pandemia no Brasil

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A médica Stefânia Teixeira recebe uma dose experimental da Coronavac no Hospital das Clínicas, em São Paulo
A médica Stefânia Teixeira recebe uma dose experimental da Coronavac no Hospital das Clínicas, em São Paulo - Divulgação/Governo do estado de São Paulo

Na escalada de descalabros já pronunciados pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) durante a pandemia da Covid-19, a declaração recente de que "ninguém pode obrigar ninguém a tomar vacina" atinge um degrau inédito.

A frase foi proferida a apoiadores no Palácio da Alvorada na segunda (31). Ganhou tom oficial de descampanha de vacinação no dia seguinte, quando estampou as redes sociais da Secretaria Especial de Comunicação Social da Presidência acrescida da afirmação de que "o governo do Brasil preza pela liberdade dos brasileiros".

Diante da marca desastrosa de mais de 120 mil mortos pela Covid-19 e da possibilidade de existir uma vacina nos próximos meses, o governo deveria se dedicar a planejar a vacinação da população.

Ao contrário, a Presidência coloca, de modo populista, os direitos individuais acima da saúde pública. A retórica antivacina contradiz a lei 13.979/2020, assinada pelo próprio presidente em fevereiro, que traz a possibilidade de realização compulsória da imunização.

A adesão da população é importante; e pesquisa Datafolha de agosto mostrou que 89% dos brasileiros querem ser vacinados. Para atingir a imunidade comunitária, ao menos 2/3 das pessoas precisariam ser protegidas por uma vacina com 75% de eficácia.

A expectativa dos cientistas mais realistas, no entanto, é de uma taxa de eficácia na ordem de 65% --o que significa que ainda mais gente teria de ser imunizada. A OMS (Organização Mundial de Saúde) já anunciou que vacinas com eficácia maior do que 50% --desde que seguras e com dados científicos publicados-- serão aprovadas.

Antes exemplo internacional, o Brasil vinha perdendo taxa de adesão vacinal nos últimos anos e viu recentemente a volta de doenças como o sarampo: foram 18.203 casos e 15 mortes em 2019.

O governo deveria tratar de combater o movimento antivacina que já pairava por aqui. Também deveria se ocupar com o planejamento das priorizações da futura vacina contra a Covid-19. Nos EUA, uma proposta inicial sugere que a imunização comece pelos profissionais de saúde, siga para pessoas com comorbidades e, depois, chegue aos professores. E no Brasil?

E como será a logística? As vacinas podem exigir armazenamento de -20 a -80 graus Celsius. Não há evidências de que o Brasil esteja se preparando para isso.

Trabalhar em uma estratégia de vacinação significa assumir um discurso científico com o qual o governo Bolsonaro não dialoga. Seguir, na contramão, um caminho disfarçado de liberdade individual, no entanto, pode manter a população exposta ao vírus mesmo com a chegada da vacina.

editoriais@grupofolha.com.br

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