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Novatos na berlinda

Processos de impeachment contra governadores põem em xeque eleitos com a onda da antipolítica

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O governador afastado Wilson Witzel (PSC), ao apresentar sua defesa à Assembleia Legislativa do Rio por videoconferência. - Andre Melo Andrade/Immagini/Folhapress

Até a semana passada, apenas um governador de estado havia sido impedido no Brasil, o alagoano Muniz Falcão, no longíquo 1957.

Hoje, dois chefes estaduais sofrem processo de impeachment. O caso mais sério é o de Wilson Witzel (PSC), no Rio de Janeiro, contra quem pesam evidências contundentes de desvios na área da saúde.

O governador, que já tinha sido afastado por ordem judicial, teve seu processo de impedimento aberto pela Assembleia Legislativa por 69 votos a 0 na quarta (23).

Ele faz companhia agora a Carlos Moisés (PSL), de Santa Catarina. No dia 17, a abertura do seu processo registrou 33 deputados favoráveis, 6 contrários e 1 abstenção.

A acusação contra Moisés se estende à vice e diz respeito a um reajuste salarial concedido a procuradores por decreto, sem aval legislativo.

O que une ambos os episódios é a origem dos atingidos. Tanto o fluminense quanto o catarinense eram novatos na política cujas chances eleitorais pareciam desprezíveis no início da disputa de 2018.

Os dois se elegeram associados à onda conservadora que acabou por levar Jair Bolsonaro ao Planalto.

Os governadores representavam bem duas das forças simbólicas que impulsionaram a maré bolsonarista. Witzel era juiz, e Moisés usava sua denominação como bombeiro militar, comandante, para compor o nome apresentado na urna.

Em ambos os casos, além da derrocada política, há fatores de disputa intestina no bolsonarismo a temperar os enredos em curso.

Witzel rompeu com o presidente e se lançou candidato à sua cadeira antes de completar o primeiro ano de mandato. Ele acusa os órgãos investigativos de perseguição e aponta Bolsonaro como maior interessado em sua ruína política.

Ao se defender na Assembleia Legislativa na quarta, o ex-juiz moralista usou argumentos semelhantes aos que ouvia de adversários no passado: "Se essa Casa aderir ao lavajatismo, não haverá mais quem possa defender a sociedade".

No caso de Moisés, a acusação de improbidade surgiu após seu afastamento de Bolsonaro e uma aproximação com João Doria (PSDB-SP), que se movimenta para concorrer à Presidência em 2022.

Lideranças ligadas ao presidente trabalham para que a vice-governadora Daniela Reinehr seja isentada de responsabilidade e assuma o posto de Moisés se ele for removido.

Outros governantes eleitos em 2018 como novidade na política também enfrentam agruras no cargo, Romeu Zema (Novo-MG) à frente.

Se tudo isso pode oferecer alívio para os atores tradicionais, trucidados nas urnas dois anos atrás, deveria servir também como lição para todos que se desviam da responsabilidade de governar --e não só para os que surfam na antipolítica.

editoriais@grupofolha.com.br ​ ​

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