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Fernando Maluf

Novidades contra o câncer

Congresso europeu de oncologia apresenta medicamentos orais eficazes

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Fernando Cotait Maluf

Diretor associado do Departamento de Oncologia Clínica da Beneficência Portuguesa de São Paulo e membro do Comitê Gestor do Centro de Oncologia do Hospital Israelita Albert Einstein

Um dos eventos de oncologia mais importantes do mundo, o congresso da European Society for Medical Oncology, realizado virtualmente entre 19 e 21 de setembro, apresentou estudos que mudam de modo importante a vida e o prognóstico de pacientes com câncer.

Para o câncer de pulmão, por exemplo, um dos tumores mais letais que existem, em parte pelas altas taxas de recidiva, uma nova droga oral chamada osermetinibe, direcionada para pacientes com uma mutação em um gene chamado EGFR (presente em 20% dos pacientes), conseguiu diminuir recorrência cerebral após a cirurgia em até cinco vezes.

Fernando Cotait Maluf  - Médico oncologista da Beneficência Portuguesa de São Paulo e do Hospital Israelita Albert Einstein, é professor da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo e fundador do Instituto Vencer o Câncer
O médico oncologista Fernando Cotait Maluf, fundador do Instituto Vencer o Câncer - Divulgação

Do mesmo modo, em câncer de mama avançado e que apresenta receptores hormonais, um estudo envolvendo 5.637 mulheres mostrou benefícios de uma nova droga oral chamada abemaciclibe, que inibe uma proteína chamada ciclina (responsável pelo crescimento e proliferação de células malignas).

O medicamento, usado em conjunto com tratamento hormonal, reduziu o risco de recorrência em 25% se comparado com a hormonioterapia isolada. Ainda dentro do campo dos tumores femininos, novas drogas orais que evitam que o tumor repare seu DNA após o tratamento com cirurgia e quimioterapia, chamadas inibidores da PARP, reduziram o risco de progressão da doença ou morte em pacientes com câncer de ovário, um dos mais letais que existem, em até 70%.

Esse benefício é maior quando há mutações dos genes BRCA 1 ou BRCA 2 (mesma síndrome da atriz Angelina Jolie) ou um perfil molecular específico. Ainda no campo da prevenção, um imunoterápico endovenoso chamado nivolumabe, que age estimulando o linfócito a atacar as células malignas, obteve resultados muito positivos em estudo com 794 pacientes com câncer de esôfago tratados com quimiorradioterapia e cirurgia. O tratamento diminuiu em 31% o risco de recorrência ou morte quando o medicamento foi utilizado após a cirurgia.

Na doença mais avançada, atingir o alvo de fragilidade do tumor o mais precoce e intensamente possível foi também o objetivo dos novos estudos. Em um estudo com 651 pacientes, a combinação de uma nova droga oral chamada cabozantinibe (cuja ação é inibir a formação de vasos tumorais) em conjunto com o imunoterápico nivolumabe reduziu o risco de morte em 40% quando comparado com uma droga mais antiga chamada sunitinibe. Do mesmo modo, em estudo com 1.101 pacientes, um novo medicamento oral chamado ipatasertibe, que atua inibindo uma proteína de nome PTEN (responsável pelo crescimento do tumor e presente em 50% dos casos de câncer de próstata), combinado à hormonioterapia, provocou redução do risco de morte ou piora da doença de 23% quando comparado somente à hormonioterapia.

Dentro do mesmo conceito de medicina de precisão, outro estudo com 387 pacientes com câncer de próstata avançado —que haviam falhado a três ou mais tratamentos medicamentosos— demonstrou que um novo medicamento oral chamado olaparibe, quando comparado com um tratamento hormonal, reduziu o risco de progressão ou morte em 31% —quando havia alterações dos genes que reparam o DNA visto pelo patologista.

Por último, em um estudo com 1.581 pacientes com câncer de esôfago e estômago avançado, novas drogas imunoterápicas, que agem retirando o efeito paralisante que o tumor exerce sobre os linfócitos (nossas células de defesa), quando combinadas à quimioterapia, proporcionaram uma redução do risco de progressão ou morte de 32% frente à quimioterapia —sendo esse ganho restrito aos pacientes que expressavam uma proteína em sua superfície chamada PD-L1, criando oportunidade para a imunoterapia funcionar de modo mais efetivo.

Como oncologista, posso dizer que, a cada ano, entendemos por quais mecanismos cada tumor de cada paciente se desenvolve, e, dentro desse paradigma, caminhando para tratamentos direcionados de modo individualizado, para cada história, para cada fase da doença, e vivenciando melhoras nas taxas de sucesso.

Como cidadão, posso dizer que ainda temos um espaço grande a percorrer no Brasil para aumentar o acesso a essas novas tecnologias, desde medicações orais para pacientes que têm planos de saúde até um repertório ainda bem mais amplo para pacientes da rede pública, a fim de suprir os abismos na saúde e equiparar os melhores resultados atingidos pelos grandes centros oncológicos.

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