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Itamaraty

Palanque indevido

Defesa de chanceler para visita de secretário dos EUA oferece nova demonstração de subserviência

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O secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, com o chanceler brasileiro, Ernesto Araújo, em entrevista que concederam ao final da visita a Boa Vista (RR). - Bruno Mancinelle/IOM/Reuters

A rápida passagem do secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, pelo Brasil, ocorrida no último dia 18, continuou gerando constrangimento para o governo brasileiro na semana passada.

Acompanhado pelo ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, ele visitou um centro de acolhimento de refugiados venezuelanos em Boa Vista, capital de Roraima, e aproveitou a chance para atacar a ditadura de Nicolás Maduro.

O episódio foi definido como uma afronta à política externa brasileira pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Um grupo de ex-chanceleres, entre os quais o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, assinou nota de protesto classificando a visita como “utilização espúria do solo nacional”.

Convidado a se explicar em audiência no Senado na quinta (24), o ministro Araújo afirmou que o encontro com Pompeo tinha sido excelente e considerou sem sentido as críticas que lhe foram dirigidas.

O problema é que os Estados Unidos irão às urnas em novembro, e o presidente Donald Trump concorre à reeleição. A retórica hostil em relação à Venezuela pode conquistar pontos no eleitorado de origem hispânica, e a oportunidade em Roraima ajudou a reforçá-la.

Não há dúvida de que a situação é dramática na Venezuela, onde a população sofre com uma crise econômica prolongada e está submetida a um governo que persegue seus opositores e obstrui canais de participação democrática.

Cabe ao Brasil buscar diálogo e promover a defesa da democracia no país vizinho, mas espera-se que isso seja feito em fóruns adequados —e não criando palanque para autoridades americanas fazerem proselitismo em território brasileiro.

É preciso zelar pelos princípios constitucionais que prescrevem o compromisso do Brasil com a autodeterminação dos povos, a não intervenção e a busca por soluções pacíficas dos conflitos.

Como o presidente da Câmara dos Deputados lembrou ao criticar a visita de Pompeo, o Brasil tem uma longa tradição de convívio respeitoso com os vizinhos e interesse na estabilidade de suas fronteiras.

Esse legado não raro é ameaçado pelas excentricidades do presidente Jair Bolsonaro e de seu chanceler, que não perdem ocasião de bajular Trump e mostrar subserviência aos interesses americanos.

Menos mal que Araújo tenha sido chamado a prestar esclarecimentos ao Senado —ainda que tenham se revelado tão pouco convincentes.

editoriais@grupofolha.com.br ​ ​

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