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Racismo não é esporte

Casos recentes põem preconceito em evidência; mudança exige ação estrutural

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Angelo Assumpção em competição pelo Pinheiros
Angelo Assumpção em uma de suas últimas competição pelo Pinheiros - Ricardo Bufolin - 9.jun.19/Divulgação

O esporte não está isento de racismo; pelo contrário. O preconceito se manifesta na atividade seja em barreiras impostas a profissionais negros, como falta de apoio financeiro, seja por insultos racistas durante a prática esportiva.

O tema volta à cena com a demissão do ginasta Angelo Assumpção, 24, do clube Pinheiros, em São Paulo, motivada, segundo o atleta, por denunciar injúrias raciais dentro do clube. Não seria a primeira vez. Em 2015, um vídeo divulgado nas redes sociais mostra companheiros de seleção brasileira, ao lado de Angelo, fazendo comentários preconceituosos e racistas.

Em outro esporte, o futebol, o racismo tem raízes históricas. Basta lembrar que derrotas do Brasil nas Copas do Mundo de 1950 e 1954 foram atribuídas, por alguns analistas, à raça dos jogadores.

“Fácil será confrontar a fisionomia de um selecionado brasileiro, constituído de pretos e mulatos em maior número, com a fisionomia do futebol argentino, alemão, húngaro ou inglês”, escreveu o chefe da delegação brasileira no mundial em 1954, João Lyra Filho.

Para que possa ser enfrentado de forma estrutural, o racismo requer, de um lado, regras que punam a discriminação e, de outro, ação coordenada, em especial dos clubes e dirigentes do setor, para propiciar igual tratamento e oportunidade a atletas negros e negras.

Sobre regras, há avanços. O novo Código Disciplinar da Fifa, instituição máxima do futebol, prevê medidas disciplinares para coibir discriminação de qualquer tipo, inclusive étnico-racial. Não é para menos. Imitações de macaco e saudações nazistas nas eliminatórias para a Eurocopa, em 2019, expuseram o racismo ainda presente nos estádios europeus.

No Brasil, a regra é clara. O Código Brasileiro de Justiça Desportiva (CDJD) já pune "ato discriminatório, desdenhoso ou ultrajante, relacionado a preconceito em razão de origem étnica e raça", entre outros motivos, com perda de pontos e multa de até R$ 100 mil ao clube.

Além de punição, é importante apoiar profissionais negros e diversificar o corpo de dirigentes e técnicos. Nesta Folha, o colunista esportivo Juca Kfouri informa que hoje há mais técnicos estrangeiros na Série A de futebol do que negros.

Protestos antirracistas no campo nos Estados Unidos e no Brasil mostram que a luta por mais equidade racial vai se deslocando das ruas para dentro dos estádios. Falta o esporte fazer a sua parte.

editoriais@grupofolha.com.br

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