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Relações tóxicas

Alemanha diz que rival de Putin foi envenenado, colocando dilema para a Europa

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A chanceler alemã, Angela Merkel, observa o presidente russo, Vladimir Putin, durante coletiva de imprensa em 2013
A chanceler alemã, Angela Merkel, observa o presidente russo, Vladimir Putin, durante coletiva de imprensa em 2013 - Alexander Demianchuk - 21.jun.13/Reuters

Em 2018, o envenenamento de um ex-espião russo e de sua filha no Reino Unido fez Londres abrir uma grande crise diplomática com o Kremlin, às vésperas da Copa do Mundo no país de Vladimir Putin.

Diplomatas foram expulsos de lado a lado. A então primeira-ministra Theresa May acusou Moscou de ter feito o ataque, que falhou em matar as vítimas, com o agente nervoso Novitchok, desenvolvido pelos soviéticos na Guerra Fria.

Passados mais de dois anos, o veneno voltou às manchetes, agora identificado pela Alemanha como o composto que teria envenenado o blogueiro Alexei Navalni.

Figura que ganhou proeminência a partir de protestos organizados contra a corrupção em 2017, Navalni firmou-se no imaginário ocidental como o grande rival de Putin.

Se é verdade que ele incomoda o Kremlin e já foi alvo de todo tipo de coerção policial e judicial, inclusive sendo banido do pleito presidencial de 2018, também é fato que ele nunca pontuou como uma alternativa eleitoral viável em pesquisas independentes russas.

No dia 20 passado, ele foi fotografado tomando um chá no aeroporto de Tomsk, caindo depois inconsciente no voo rumo a Moscou. Acabou transferido para Berlim.

O governo russo diz não ter acesso a dados que provem que houve envenenamento, e que testes iniciais descartavam a hipótese.

Não apenas o caso do ex-espião Serguei Skripal e sua filha veio à mente. Pelo menos seis figuras de relevo na oposição a Putin foram envenenadas nos seus 20 anos de poder. Outros acabaram mortos em atentados diversos, como o político Boris Nemtsov em 2015.

Obviamente, o Kremlin nega qualquer envolvimento nos episódios. Mesmo que nenhuma alta autoridade tenha a ver com eles, a culpa sistêmica sempre acabará com Putin: esse é o preço de um regime com traços autocráticos.

Politicamente, o ônus também recai sobre a chanceler Angela Merkel, que adotou um tom duro contra a Rússia no caso Navalni.

A Alemanha é cliente energética de Moscou, e 40% do gás natural que consome é russo. Opositores de Merkel pedem a revisão do Nord Stream 2, gasoduto que vai aumentar a oferta do produto, obra que já sofre sanções a investidores alemães por parte dos EUA.

O envenenamento de Navalni, se provado, testa o limite do pragmatismo alemão e pode influenciar o de outros parceiros dúbios nos negócios com Putin, como a França.

editoriais@grupofolha.com.br

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