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Retrocesso nas vacinas

Lei prevê que o dever de imunizar comunidade prevalece sobre recusa individual

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A médica Stefânia Teixeira foi a primeira  testar a Coronavac, no Hospital das Clínicas
A médica Stefânia Teixeira foi a primeira testar a Coronavac, no Hospital das Clínicas - Divulgação/Governo do estado de São Paulo

Vacinas figuram entre as maiores dádivas da ciência. A elas se credita, ao lado de expansão do saneamento básico e de sistemas nacionais de saúde, a maior parte da dramática redução na mortalidade infantil ao longo do século 20.

Só isso já comporia razão para deplorar que ora se encontrem em retração no Brasil e noutras nações. Mais ainda quando a imunização contra o novo coronavírus aparenta oferecer a única perspectiva de controle definitivo da pandemia.

Preocupa, e muito, a constatação de que em 2019 não se cumpriu no país nenhuma meta de cobertura para as vacinas aplicadas na infância —fracasso inédito no século 21.

Campanhas oficiais objetivam imunizar entre 90% e 95% dos bebês e crianças, para que bacilos e vírus parem de circular nessa população. É a chamada imunidade comunitária, quando germes não encontram indivíduos para infectar e, por meio deles, espalhar-se.

Foi por essa via que o aclamado calendário de vacinação implantado no Brasil conseguiu virtualmente extinguir doenças cruéis como poliomielite e sarampo. No primeiro exemplo, a cobertura ficou em torno de 100% de 1999 a 2011, quando começou a cair até despencar a 83% no ano passado.

A cobertura da vacina tríplice, que protege contra sarampo, caxumba e rubéola, recuou a alarmantes 86% em 2017, e não foi assim surpresa que a primeira enfermidade tenha observado surtos desde então. Nos dois anos seguintes a cobertura melhorou, subindo a insuficientes 92%.

Há muitos fatores por trás do retrocesso. Diz-se que vacinas são vítimas do próprio sucesso, na medida em que desaparece a experiência concreta com as moléstias e, com ela, o temor de contaminação.

Também se mencionam deficiências no Sistema Único de Saúde (SUS), como falta de pessoal, desabastecimento de imunizantes e horários desfavoráveis para o atendimento. Ademais, circulam nas redes sociais informações fraudulentas que podem desestimular o comparecimento.

Parece ainda pesar pouco, no Brasil, a ideologia antivacinação que grassa em alguns países e, segundo o Datafolha, 89% pretendem tomar a vacina contra a Covid-19 quando ela estiver disponível. Não se deve desprezar, contudo, o potencial de disseminação dessa praga, agora que até o presidente Jair Bolsonaro declara, absurdamente, não ser possível obrigar ninguém à vacinação.

editoriais@grupofolha.com.br

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