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Volta às aulas

Prolongar fechamento de escolas trará danos e aumentará a desigualdade

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Crianças no colégio Miguel de Cervantes, no Morumbi, que serviu de creche para filhos de funcionários do hospital Albert Einstein
Crianças no colégio Miguel de Cervantes, no Morumbi, que serviu de creche para filhos de funcionários do hospital Albert Einstein - Zanone Fraissat - 1.abr.20/Folhapress

Compreendem-se os temores de pais e mestres quanto à reabertura das escolas em meio à epidemia mal controlada de Covid-19, pois se trata aí de decidir entre alternativas ambas problemáticas. O alongamento da quarentena, entretanto, acarretará prejuízo certo e crescente para crianças e jovens, ao passo que os riscos de infecção se afiguram cada vez mais baixos ou administráveis.

Nesta altura, torna-se claro que a chamada segunda onda da pandemia é evento incomum. No Brasil, as curvas parecem enfim abandonar o alto patamar em que ficaram por mais de dois meses. Nos países onde houve retorno às aulas, predomina a baixa ocorrência de infecções em ambiente escolar e raríssimos casos fatais.

Surtos preocupantes acontecem, por certo, como no ensino básico de Israel e em algumas faculdades americanas, que forçaram renovada suspensão de atividades. Não foi esse o caso, porém, da maioria entre milhares de estabelecimentos reabertos na Alemanha, na Noruega, na França e no Uruguai.

Imperioso se mostra debater e decidir não se aulas devem voltar, sobretudo no ensino público, mas em quais condições. Sem enfrentar o desafio, aumentarão a evasão escolar e a desnutrição de estudantes que dependem de merenda, carecem de meios para acompanhar ensino a distância e são mais vulneráveis à violência doméstica.

A desigualdade social ganharia, assim, novos fatores de multiplicação. Escolas particulares, ao menos as de elite, já têm pronto um cabedal de medidas de prevenção para reiniciar atividades. Seus alunos se distanciarão ainda mais dos que só têm a escola pública como opção.

Claro está que haverá exceções e percalços. Em cidades nas quais o ritmo de infecções e óbitos se ache em aceleração, há que pensar duas vezes antes de reabrir escolas sem um distanciamento rígido.

Mas os governantes devem afastar-se da tentação política, em ano eleitoral, de manter escolas fechadas para não desagradar sindicatos de professores enquanto os shoppings funcionam e as praias estão abarrotadas. Em São Paulo, onde a reabertura foi autorizada na terça (8) em cidades há 28 dias na chamada fase amarela, só 128 dos 645 municípios autorizaram o retorno, sobretudo na rede privada.

Experiências internacionais indicam que fundamental é identificar portadores de sintomas, testá-los e rastrear os contatos dos casos confirmados, para isolamento.

Ao poder público compete aparelhar-se para tornar isso possível, além de normatizar e fiscalizar as regras de distanciamento mandatórias. Aos educadores e pais, demandar do Estado o cumprimento da exigência constitucional de prover educação --para todos.

editoriais@grupofolha.com.br

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