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Acabou a corrupção?

Dinheiro encontrado na cueca de vice-líder ridiculariza bazófia de Bolsonaro

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O presidente Jair Bolsonaro e o senador Chico Rodrigues (DEM-RR), flagrado com dinheiro na cueca - Marcos Corrêa - 14.mar.19/PR

A Lava Jato acabou por falta de objeto, afirmou o presidente Jair Bolsonaro em termos mais coloquiais. O raciocínio por trás da parolagem era simplista como de hábito: seu governo teria extinguido a corrupção e, portanto, não caberia mais operação para esse propósito.

Como nas comédias, o tempo se encarregou de ridicularizar o canastrão. Nesta quarta (14), uma semana depois de declamado o fim dos desvios, o então vice-líder do Planalto no Senado, Chico Rodrigues (DEM-RR), foi pego pela Polícia Federal com dinheiro na cueca.

Quando deram com o achado, os investigadores cumpriam um mandado de busca e apreensão, ordenado pelo ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal, na residência do senador em Boa Vista. A intervenção ocorreu para dar curso a uma apuração sobre fraudes de verba federal para o combate à Covid-19.

Chico Rodrigues diz que provará a inocência, mas foi desligado da vice-liderança do governo —e afastado do Senado por decisão, decerto polêmica, de Barroso. Já os vídeos em que aparece dando mostras de sintonia com Bolsonaro despertam o interesse do público.

As notas íntimas, ao calor do corpo, fazem lembrar do assessor do hoje deputado federal José Guimarães (PT-CE) flagrado com US$ 100 mil, também na cueca, ao tentar embarcar num voo em 2005.

Também evocam a doleira da Lava Jato Nelma Kodama, que em 2014 tentou voar para a Europa com 200 mil euros na calcinha —e as cenas de numerário homiziado na cueca e na meia de aliados captadas nos vídeos que em 2009 escancararam desmandos da gestão José Roberto Arruda, eleito pelo DEM.

Quando o volume excede a capacidade do organismo, surgem as malas, como as encontradas em 2017 com mais de R$ 50 milhões em apartamento do ex-ministro Geddel Viera Lima (MDB) e, no mesmo ano, as endereçadas ao então senador Aécio Neves (PSDB) pela JBS.

Não é necessário ser psicanalista para intuir o que está por trás da bazófia de Bolsonaro sobre o fim da corrupção. É o desejo de não ter seus novos e velhos parceiros políticos —e sobretudo familiares do presidente— importunados por procuradores, juízes e policiais.

A realidade, porém, frustra as expectativas presidenciais, para o bem das instituições republicanas. Os excessos cometidos na Lava Jato por aplicadores do direito não apagam o colosso de corrupção detectado naquelas investigações.

A aproximação com o centrão tem o efeito elogiável de moderar o extremismo presidencial, mas não disfarça o interesse mútuo de manietar os órgãos de controle. Cabe à sociedade e aos guardiões da lei impedir que esse segundo e nefasto propósito da aliança prospere.

editoriais@grupofolha.com.br

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