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Apesar do Planalto

Covid desacelera no país; incúria, que incluiu mau uso de doação, alongou crise

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O presidente Jair Bolsonaro se atrapalha com máscara em solenidade - Adriano Machado - 18.mar.20/Reuters

Os brasileiros enfim voltam a respirar algum otimismo diante da marcha lúgubre da Covid-19. Com cautela, pois nada assegura que a desaceleração captada em estatísticas se sustente num país em que a irresponsabilidade sentou praça na própria Presidência da República.

Os números não mentem, por mais que Jair Bolsonaro se empenhe em negar a gravidade da epidemia. Com 144 mil mortos em menos de sete meses, a nação que governa concentra 14% dos óbitos pelo novo coronavírus no mundo, tendo meros 3% da população.

Pela primeira vez, porém, o monitoramento da doença por esta Folha enseja algum alívio. O Brasil deixou o estágio de estabilidade (em patamar mais elevado que o desejável, anote-se), no qual se achava há 40 dias, para firmar-se numa fase em que os casos novos exibem queda inquestionável.

No pior momento de agosto, a média móvel diária de infecções alcançou a alarmante cifra de 46,2 mil. Reduziu-se agora a 26,5 mil, em boa parte pela retração da moléstia na cidade e no estado de São Paulo. Ninguém pode dar-se por satisfeito, contudo, quando seis ou sete centenas de brasileiros ainda morrem com Covid-19 todos os dias.

São vítimas de enfermidade que pode ser prevenida, com distanciamento e máscaras, enquanto não há tratamento nem vacina eficazes.

Um dos fatores para o péssimo desempenho do país na contenção da pandemia foi a incapacidade de organizar logística para testar maciçamente a população. Era providência essencial para isolar contaminados e seus contatos diretos e para embasar a estratégia nacional.

Coordenar prefeitos e governadores nessa empreitada cabia a Bolsonaro. O presidente investiu no oposto, levando descrédito ao Ministério da Saúde. E fez mais que sabotar o esforço dessas autoridades, incluindo realocar dinheiro doado para realização de exames.

Como a Folha revelou, R$ 7,5 milhões ofertados por um frigorífico para viabilizar 100 mil testes rápidos terminaram redirecionados a atividades clientelistas.

Dias após o depósito, o governo decidiu reencaminhar o recurso para o programa Pátria Voluntária, liderado pela primeira-dama, Michelle Bolsonaro. As verbas se destinaram, então, à distribuição de cestas básicas por entidades missionárias evangélicas.

Trata-se de uma amostra reveladora da incúria que prolongou e acentuou uma crise sanitária, econômica e social cujos efeitos apenas começam a arrefecer.

editoriais@grupofolha.com.br

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