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Bolívia democrática

Eleição pode restaurar normalidade abalada desde manobras de Evo Morales

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O esquerdista Luis Arce, vitorioso na eleição presidencial boliviana - Ronaldo Schemidt/AFP

Com participação popular expressiva e sem registrar incidentes de monta, o pleito realizado na Bolívia no domingo (18) constituiu o primeiro e fundamental passo para que o país regresse à normalidade democrática, abalada desde as tentativas do ex-presidente Evo Morales de se perpetuar no poder.

A provável vitória contundente do ex-ministro da economia de Morales, Luis Arce, do MAS, dá a ele a legitimidade necessária para se dirigir a uma sociedade polarizada e enfrentar os desafios da crise econômica gerada pela pandemia de Covid-19 —que deve levar a uma queda de 7,9% do PIB neste ano, segundo projeção.

Para o sucesso da eleição concorreu, sem dúvida, a atitude conciliatória dos envolvidos no processo. Tanto a presidente interina, Jeanine Añez, como o segundo colocado, Carlos Mesa, congratularam Arce pela vitória antes de finda a apuração, afastando a possibilidade de contestação do resultado e abrindo caminho para uma transferência de poder sem sobressaltos.

Arce, por sua vez, apelou à unidade nacional em suas primeiras declarações, evitando qualquer tipo de revanchismo. Afirmou que o MAS aprendeu com a experiência passada e que o partido corrigirá seus erros na nova administração —numa autocrítica que se distancia da retórica de Morales enquanto esteve à frente do país.

No governo de 2006 a 2019, o ex-presidente combinou a busca por maior inclusão de grupos indígenas e uma política econômica pragmática, que logrou reduzir a pobreza de 60% para 35% da população, com um apego ao cargo próprio do caudilhismo latino-americano.

Suas manobras para se manter no poder, desrespeitando as regras constitucionais e o resultado de uma consulta popular, provocaram uma tensão social que atingiu o ápice nas controvertidas eleições do ano passado, maculadas por suspeitas de fraude.

Os distúrbios então desencadeados levaram à destituição de Morales, após pressão das Forças Armadas. À sua saída seguiu-se um problemático governo interino, que perdurou por um ano sob acusações de revanchismo.

Espera-se que esse passado deplorável possa começar a ser superado a partir de agora. Para tanto, é também crucial que Morales, hoje exilado na Argentina e com retorno à Bolívia esperado para logo, acomode-se no papel de ex-líder e se abstenha de tentar intervir no governo de seu ex-comandado.

editoriais@grupofolha.com.br

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